DTT- Ensino por tentativas discretas
Dentre as diversas estratégias que compõe a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) para a intervenção de crianças com desenvolvimento atípico, uma delas é o DTT, ou seja, Ensino por Tentativas Discretas, a qual se dá por um ensino estruturado e planejado de acordo com as necessidades do paciente, de forma individual. Para a aplicação do DTT é necessário que o aplicador receba as instruções, treinamento e supervisões semanalmente. O processo de ensino se dá por uma contingência altamente descrita com o passo a passo que deverá ser seguido, sendo desde a instrução dada a criança, o tipo de ajuda fornecido a ela, a resposta da criança seguida por uma consequência imediata de um elogio social, dentre itens que são reforçadores para a criança, como brinquedos, recursos sensoriais, doces e até mesmo eletrônicos (vai da preferência de cada criança). É importante dizer que toda essa operação precisa ser altamente descrita e analisada em cada supervisão se tais comportamentos alvos estão sendo adquiridos ou não, para alterar a forma de aplicação e ou procedimento. Ao elaborar o programa de ensino o programador/supervisor do caso deverá descrever a hierarquia de dica e como elas poderão ser esvanecidas, a quantidade de acertos independentes que a criança precisará ter para atingir critério de aprendizagem, a manutenção dos comportamentos aprendidos, além do teste de generalização que deverá ser aplicado em diversas condições e com variadas pessoas. Queremos que o nosso aluno não aprenda somente com o AT ou somente com o pai que está aplicando os programas de ensino. Quando elaboramos tais programas, idealizamos para que todos os repertórios adquiridos sejam também expandidos, e desta forma consideramos uma aprendizagem eficaz!
No ensino de DTT é também realizado repetidas vezes, tendo o aprendiz múltiplas tentativas em uma mesma sessão de emitir a resposta esperada. Para garantirmos essas respostas e analisarmos os próximos passos, é necessário que todos os comportamentos que estão sendo ensinados sejam registrados a fim de mensurar as respostas do aluno e traçar novas metas. Além disso é necessário que esses comportamentos sejam posteriormente operados em gráficos para melhor visualização das respostas e controle de aprendizagem.
Este ensino DTT apresenta eficácia com comprovação científica para promover o aprendizado de novas habilidades, auxiliar na diminuição de comportamentos inapropriados, fortalecer respostas incompatíveis àquelas apresentadas como indesejadas, e aumentar a probabilidade de comportamentos apropriados.
Alguns princípios básicos para o planejamento do DTT são:
• O ensino deve ser individualizado.
• Para cada objetivo é realizada uma análise de tarefas.
• Os comportamentos ensinados devem ser repetidos para que a criança dê a mesma resposta alvo por mais vezes.
• Existem critérios de avanços. Uma nova habilidade só começa ser ensinada quando a anterior já está aprendida, e esta deverá ser posta em manutenção.
• Utilizamos pressupostos da aprendizagem sem erros, ou seja, o terapeuta, quando necessário apresenta ajudas para que a criança se mantenha motivada.
• Todas as respostas da criança são registradas. Desta forma temos controle do que a criança está aprendendo e em qual nível de ajuda ela está.
• Os registros são importantes para analisar o passo seguinte.
• A resposta esperada deve ser detalhada na folha de registro, para que, caso haja mais de um aplicador, estes aceitem a mesma resposta alvo da criança, reforçando-as de maneira correta.
Ensino naturalístico
O ensino naturalístico ou incidental tem como característica a iniciação da criança, ou seja, essa interação não é estruturada, o aprendizado se dá através de brincadeiras ou conversas (neste caso, quando trabalhado questões relativas ao comportamento verbal).
Muitas vezes esta iniciação inclui um pedido de ajuda, como, por exemplo, quando damos à criança um brinquedo com uma peça faltando e ela precisa pedir, aproveitamos a oportunidade para dar continuidade à intervenção.
O terapeuta pode apresentar uma dica para ajudar a criança, mas diferente do DTT, onde começamos com a ajuda mais intrusiva, no ensino naturalístico ou incidental, começamos com a ajuda menos intrusiva (least to most) de menos para mais, contudo o uso de dicas é mais flexível neste modelo de ensino.
Outro procedimento utilizado durante o ensino incidental é a modelagem, ou seja, o terapeuta vai refinando a resposta da criança a partir da apresentação da mesma até que a topografia da resposta desejada seja alcançada.
No ensino naturalístico o ambiente precisa ser organizado, com os itens de preferência da criança para que assim, aumente a probabilidade dela iniciar a interação, ou seja, mesmo que a sessão não seja estruturada requer um planejamento e preparo.
Assim que a criança apresenta a iniciativa em uma brincadeira e o terapeuta interage, a criança é reforçada de forma relevante ou funcional e não arbitrária. Isto é, no ensino naturalístico o reforçador é intrínseco, acontece na própria interação e/ou na brincadeira. Por este motivo a análise de reforçadores na intervenção incidental é muito importante, além do conhecimento prévio dos repertórios que a criança tem, para que desta forma sejam trabalhadas as expectativas realistas e a apresentação das dicas nos momentos apropriados.
Apesar do ensino incidental ser bastante utilizado na aquisição de linguagem, pode-se ensinar habilidades sociais e acadêmicas também. Existe um mito que se ensina apenas conteúdo lúdico através de ensino incidental e conteúdo acadêmico através de DTT. Isso não existe, sendo que ambos podem ser utilizados para promover o ensino de todos os repertórios que o indivíduo precisa.
A maior vantagem apresentada pelo ensino incidental é de que a principal variável é a motivação da criança, o que facilita a generalização comportamental, ou seja, é mais provável que a criança diga “boneca” se quer uma boneca em ambiente não estruturado se ela foi estimulada em ambiente naturalístico.
Para finalizar quero destacar que tanto o ensino por tentativas discretas-DTT quanto o ensino naturalístico se complementam. Alternar entre um e o outro pode deixar a sessão mais divertida, aumentando a motivação da criança e consequentemente o aprendizado.