Desde 2016, quando entrou em vigor o Estatuto da Pessoa com Deficiência, mais especificamente a Lei 13.146/2015, a criança neuroatípica com necessidade comprovada tem o direito a um acompanhante/assistente terapêutico especializado a acompanhando em sala de aula.
Meu nome é Ana Júlia Arantes e em 2019 comecei a acompanhar crianças autistas na escola sob supervisão da psicóloga Juliana Moura. Estar no ambiente escolar, para qualquer criança, é muito mais do que apenas se expor a interações sociais. Na escola a criança será exposta a uma série de conhecimentos formais e estímulos sensoriais os quais dificilmente teria contato em outras situações, mas às vezes um apoio é necessário, e ali estará a AT, atuando como uma “sombra” da criança, dando suporte no que for necessário, pois sabemos que numa turma com em média 20 crianças, é complicado que uma única professora consiga dar atenção constante e individualizada a todas elas.
No entanto, meu maior desafio nas escolas em que atuei foi em deixar claro que não estava ali para substituir o papel da professora e muito menos para “controlar” a minha criança. Muitas instituições, ainda que tenham um discurso de inclusão, se incomodam com as estereotipias, não sabem lidar com as crises, não gostam de ver uma criança se comportando diferente das demais, porque querendo ou não o modelo de ensino brasileiro ainda se pauta muito em querer um ordem absoluta, uma sala de aula silenciosa, onde os alunos, em fila, compreendam e façam tudo da mesma forma. O discurso de “todos os alunos são iguais na sala de aula” cega para o fato de que todas as crianças são diferentes entre si e, portanto, aprendem de forma diferente.
Mas o prazer da profissão está justamente em dialogar com a instituição, com os pais das outras crianças às vezes e, principalmente, com os coleguinhas da sua criança. Quando levamos a informação sobre as especificidades da nossa criança com carinho, podemos ver na prática a inclusão acontecer e o ambiente escolar se modificando. Ser AT escolar é ter a certeza de que nunca verá um dia igual ao outro em sala de aula, é, junto com a sua criança, fazer muitos amiguinhos novos todos os dias, dar muitas gargalhadas, voltar para casa suja de tinta e com um sentimento de gratidão enorme por fazer parte, nem que só um pouquinho, do desenvolvimento não só do pequeno que você atende, mas de muitos outros.
Não há gratidão maior, para alguém que estuda e é apaixonado (a) pela infância e o desenvolvimento infantil do que vê-la acontecendo na prática todos os dias, além de sentir que pode fazer uma diferença real sobre a inclusão em cada instituição que passa.
Texto Por: Ana Júlia Arantes - Estudante de Psicologia | Assistente terapêutica, supervisionada pela Clínica Mundo Kids.
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