Olá pessoal que acompanha o MK. É um prazer estar por aqui novamente, escrever sobre minhas vivências em relação ao Autismo, compartilhar um pouco com vocês sobre as minhas percepções enquanto pessoa Autista.
O assunto de hoje está envolto em grandes polêmicas. Acredito que muitos de vocês já se depararam com algum tipo de discussão ou questionamento sobre esse tema.
Estou falando das estereotipias ou, como muitos preferem, stims. Antes de qualquer definição sobre o que significam esses termos, vou fazer considerações que acho relevantes ao caso.
Durante muito tempo o autismo foi apenas visto e representado por parte dos profissionais ou, dos pais de pessoas autistas. Com isso, condutas, termos e as perspectivas em relação ao TEA eram sempre através desse olhar. Acontece que, com o passar dos anos, com maior conhecimento acerca das questões relacionadas ao Espectro do Autismo, com aumento de profissionais especialistas no assunto e, maior capacidade de se fazer o diagnóstico de maneira eficaz. Além do surgimento de uma cultura autista, que passou a ganhar voz por um panorama da figura de Autistas adultos, muitas questões são observadas por outro ângulo.
E, como quase tudo que exige algum tipo de mudança causa alguma resistência, não seria diferente ao tratarmos do nosso assunto de hoje. Qual é o termo correto, estereotipias ou stims?
Primeiramente, temos que saber o que significa cada um desses termos.
Estereotipia é o termo médico que define as ações repetitivas ou ritualísticas que podem apresentar-se através de movimentos, da fala ou sons, e até mesmo da postura do indivíduo. Qualquer pessoa pode apresentar estereotipia, porém, em pessoas Autistas é algo tão presente e notório que chega a ser um dos critérios para diagnosticar a condição.
Mas e Stim, o que significa então? Pois bem, essa é a maneira pela qual grande parte da comunidade Autista prefere utilizar, como alternativa ao termo médico. Provém de uma abreviação do termo em inglês stimming que significa algo como "comportamento autoestimulatório".
Aí, alguém pode pensar que o Autista prefere stim ao invés de estereotipia, pode ser uma simples implicância com o termo. Mas não é bem assim, tem uma explicação para isso. Muitos Autistas acham que o termo médico é estigmatizante e, por muito tempo houve uma falsa ideia de que esses tipo de ação era um comportamento sem função, inclusive precisaria ser cessado por ser inadequado ao convívio social.
Hoje, felizmente, com a voz de vários Autistas adultos, que se pronunciam e relatam a importância de tal atividade em suas vidas, já se sabe e, cada vez mais é disseminada a informação de que nem de longe isso é algo sem função. Como o próprio termo (stimming) sugere, essas ações servem para regulação aos estímulos externos e internos, também para controle de ansiedade e, até mesmo, para gerar conforto diante de situações de estresse.
Então falar "estereotipia" está errado?
A resposta é não! Não podemos e nem devemos ignorar o termo assim de pronto. Precisamos ter a percepção de que artigos científicos, livros, manuais médicos, etc. usam tal palavra na literatura científica. Não podemos simplesmente excluir do vocabulário, de uma hora para outra, com o risco de maior prejuízo no entendimento, na área profissional que não está familiarizada com o conceito de "stim".
O que precisa ser excluído então, é o entendimento de que essas ações, tão presentes e importantes no TEA, precisam ser erradicadas com finalidade de atingir um padrão de normalidade, a ser alcançado pela pessoa autista para sua adequação na sociedade.
Ainda em tempo, é importante ressaltar que nem toda ação repetitiva ou ritualística, que caracteriza esse critério diagnóstico do TEA e, que está presente durante todas as fases do desenvolvimento da pessoa, é benéfica. Existem ocasiões em que essa ação é prejudicial ao bem estar do indivíduo, nesses casos, é de extrema necessidade haver intervenção, no sentindo de não permitir e de ressignificar tal ato, para outro que não acarrete em prejuízos.
Para finalizar, com uma perspectiva pessoal e, para dividir com vocês como eu separo isso na minha cabeça, vou dar a minha definição (enfatizando que isso não é algo oficial, sim a minha maneira de definir) desses dois termos em questão.
Para mim, quando se trata de algo que necessita de reparação, de ser cessado ou ressignificado, que necessita de intervenção profissional, chamo de estereotipias.
Quando se refere a algo que trate de autoregulação, autoestimulação, que traga calma, que envolva prazer e seja benéfico, chamo de stims.
Texto escrito por: Fábio A. Cordeiro, Autista, 40 anos | Funcionário Público Federal | Pai de dois meninos, um neurotípico e um autista | Colunista no vidadeautista.com.br | Membro da REUNIDA - Conselho do Autistas | Criador da maior página de humor autista do Brasil - @aspiesincero
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