Como mãe, eu sempre digo que acompanhar o desenvolvimento do meu filho é maravilhoso. Cada sorriso, cada novo passo, novo gesto e caretas despertam em mim uma emoção sem fim. Mas junto com esse sentimento, vem o medo e a incerteza. Será que está tudo bem? Será que ele está crescendo de acordo com o esperado para a sua idade?Por isso, se torna tão importante para as mães, pais, cuidadores e responsáveis, conhecerem sobre as fases do desenvolvimento infantil.Segundo o psicólogo Jean Piaget, as fases do desenvolvimento infantil são divididas em 4 etapas:Sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal. Vamos conhecer um pouco sobre cada uma delas e como podemos estimular o desenvolvimento nossos filhos.Sensório-motor – dos 0 aos 2 anosA primeira fase do desenvolvimento infantil ocorre entre os dois primeiros anos de vida. Nessa etapa a criança começa a entender sobre os seus sentidos e a ter consciência sobre suas habilidades motoras básicas. Ou seja, é durante essa fase que elas passam a explorar o mundo utilizando seus 5 sentidos e com os seus movimentos corporais.Em suma, é aqui que as crianças passam a entender que se estenderem os bracinhos, conseguem alcançar seus brinquedos e se abrirem a mão enquanto o seguram, ele cairá.Além disso, é nessa fase, que também começam a desenvolver a linguagem básica e as habilidades sociais. Passando, ainda, a formar fortes ligações emocionais com os seus responsáveis.Entre as principais atividades indicadas para essa fase estão aquelas que estimulam os movimentos e o uso dos sentidos, como brincadeiras envolvendo música, os pais podem cantar, ler histórias e deixar a criança ter acesso a brinquedos de encaixe, por exemplo.Pré-operatório – dos 2 aos 7 anos A segunda fase do desenvolvimento infantil é o pré-operatório que geralmente ocorre dos 2 aos 7 anos. Aqui, a criança passa a ter o domínio da linguagem e da sua cognição, passando a conseguir criar imagens na sua mente e a imaginação sendo extremamente ativa.Além disso, as crianças passam a desenvolver o seu egocentrismo, achando que tudo acontece por causa delas. Como resultado, acabam não dando importância e atenção para o que é falado.Nessa fase, a imaginação e criatividade das crianças estão no seu auge, por isso histórias e brincadeiras de faz de conta, bem como o artesanato e a pintura são ótimos estímulos para o desenvolvimento infantil.Operatório concreto – dos 7 aos 12 anos Dos 7 aos 12 anos a criança se encontra na fase operatória concreta, em que passa a desenvolver as suas habilidades logísticas e sociais mais complexas. Assim, as crianças nessa fase começam a desenvolver a capacidade de pensar de forma mais abstrata e lógica, começando a ter uma compreensão mais profunda de si mesmas e do mundo ao seu redor. Além disso, elas também começam a formar amizades mais fortes, compreendendo as complexidades das relações sociais e passando a exercitar a empatia.Durante essa idade é muito importante que pais e responsáveis incentivem o desenvolvimento cognitivo das crianças. Seja por meio de jogos ou com o uso de números.Operatório formal – a partir dos 12 anosDo início da pré-adolescência até o final da adolescência aos 18 anos, a criança se encontra na fase operatória formal. A partir dessa idade, hipóteses elaboradas a partir de pensamentos mais lógicos e também abstratos passam a ser trabalhadas.É durante essa fase que as crianças passam pela puberdade, que envolve mudanças físicas rápidas. Ainda, a adolescência também é um período de desenvolvimento emocional e social intensos. Sendo nesse momento em que os adolescentes começam a desenvolver a sua identidade e a buscar uma maior independência.A adolescência pode ser uma das fases mais complexas no processo de desenvolvimento infantil. Dessa forma, é importante estimular que as crianças desenvolvam a sua autonomia e sua personalidade própria, deixando com que explorem as atividades que gostem e que expressem seus sentimentos livremente.Diante disso, podemos perceber que o desenvolvimento infantil é complexo e portanto, quanto mais conhecimento os pais e responsáveis tiverem sobre o assunto, mais poderão auxiliar no processo de desenvolvimento dos seus filhos.Gostaram do conteúdo?Espero que tenha ajudado e em breve voltarei para explicar um pouco sobre os marcos do desenvolvimento infantil.Até a próxima!
Setembro Amarelo chegando ao fim e encerramos o mês com esta matéria extremamente necessária! Através de artigos científicos e meus relatos pessoais, eu, uma mulher, autista com diagnóstico tardio, que enfrentou grandes desafios para estar viva hoje, apresento a vocês, como esse assunto é de grande importância o ano inteiro e de extrema urgência.O autismo é amplamente discutido na infância, mas quando falamos sobre autistas adultos, a conversa frequentemente se perde. Dentro dessa lacuna de diálogo, um tema que demanda atenção urgente é o suicídio em autistas adultos. Estudos mostram que pessoas no espectro autista têm uma probabilidade maior de desenvolver pensamentos suicidas e de cometer suicídio, especialmente as mulheres, que estão entre os grupos mais vulneráveis. Por muito tempo, lutei para entender por que sentia que havia algo de diferente comigo, algo que não se encaixava. Sem saber que era autista, vivi tentando camuflar minhas características para me ajustar ao mundo, o que me levou à exaustão emocional e, em momentos de crise, até à ideação suicida. Foi um processo difícil, e a falta de apoio e compreensão tornou tudo ainda mais desafiador. Infelizmente, essa é uma realidade que afeta muitas mulheres autistas. Dados Preocupantes: Taxa de Suicídio em Autistas Adultos Pesquisas internacionais revelam que adultos autistas têm até nove vezes mais chances de morrer por suicídio em comparação à população neurotípica. Segundo um estudo conduzido no Reino Unido pelo Dr. Sarah Cassidy e sua equipe na Universidade de Nottingham, cerca de 66% dos adultos autistas relataram ideação suicida em algum momento de suas vidas, e 35% tentaram o suicídio pelo menos uma vez. O número alarmante de suicídios entre pessoas autistas não é exclusividade do Reino Unido. Um estudo realizado na Suécia mostrou que autistas são até 10 vezes mais propensos a morrerem por suicídio do que seus pares neurotípicos. Além disso, um estudo de 2018 realizado pela Autism Research Foundation, nos Estados Unidos, destacou que as mulheres autistas estão ainda mais propensas a sofrer com pensamentos suicidas do que os homens. Mulheres Autistas: O Grupo de Maior Risco Mulheres autistas estão em maior risco, por uma série de fatores sociais e biológicos. O primeiro e talvez mais significativo é o diagnóstico tardio ou equivocado. Muitas mulheres autistas passam anos, ou até décadas, sem saber que estão no espectro autista. Isso ocorre porque a apresentação dos sintomas nas mulheres muitas vezes difere do que é tradicionalmente esperado de uma pessoa autista. Elas tendem a internalizar seus desafios e, por meio da “camuflagem”, adaptam-se para parecerem neurotípicas. Esse esforço contínuo de esconder suas características autistas pode gerar exaustão emocional e mental. As mulheres que passam grande parte de suas vidas sem um diagnóstico adequado podem vivenciar sentimentos profundos de inadequação, solidão e esgotamento, pois constantemente tentam se ajustar a padrões sociais que não refletem sua maneira de ser. Esses fatores aumentam significativamente a probabilidade de desenvolverem transtornos mentais, como depressão e ansiedade, e, consequentemente, elevam o risco de suicídio. Causas e Fatores de Risco Existem diversas razões pelas quais as mulheres autistas compõem o grupo de maior risco quando falamos em suicídio. Entre elas, destacam-se: Diagnóstico Tardio ou Ausente: As características do autismo nas mulheres muitas vezes não se enquadram nos critérios tradicionais de diagnóstico, resultando em diagnósticos incorretos ou muito tardios. Muitas são diagnosticadas inicialmente com depressão, transtorno de personalidade borderline ou transtornos alimentares, o que pode mascarar o autismo por muitos anos. Camuflagem e Exaustão: A camuflagem é a prática comum entre as mulheres autistas de disfarçar ou minimizar seus comportamentos autistas para se encaixar em ambientes sociais neurotípicos. A longo prazo, essa prática leva à exaustão mental, crise de identidade e, em muitos casos, depressão severa. O desgaste psicológico associado à camuflagem é uma das principais causas do elevado risco de suicídio. Isolamento Social e Falta de Apoio: A dificuldade em estabelecer conexões sociais verdadeiras e a sensação de isolamento são agravantes. Muitas mulheres autistas relatam uma profunda sensação de solidão, mesmo quando estão rodeadas por outras pessoas. A falta de uma rede de apoio genuína pode agravar os sentimentos de desesperança e aumentar a ideação suicida. Comorbidades Psiquiátricas: É comum que mulheres autistas apresentem comorbidades, como depressão, ansiedade, transtornos alimentares e transtorno obsessivo-compulsivo. Esses fatores complicam ainda mais a sua saúde mental e elevam os riscos de pensamentos suicidas e tentativas. Violência e Trauma: Pesquisas também mostram que mulheres autistas são mais propensas a sofrerem abuso sexual e emocional ao longo de suas vidas, o que contribui para quadros de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e aumenta o risco de suicídio. A Importância de Diagnóstico e Apoio Adequado A ausência de diagnóstico correto durante grande parte da vida é um dos fatores centrais que coloca as mulheres autistas em risco elevado de suicídio. A falta de compreensão sobre si mesmas, combinada com a constante tentativa de "se encaixar" em um mundo projetado para neurotípicos, pode ser emocionalmente devastadora. Por isso, o diagnóstico precoce e adequado é crucial para proporcionar a essas mulheres uma melhor qualidade de vida. Além do diagnóstico, é vital que existam redes de apoio específicas para mulheres autistas. Esse apoio pode incluir grupos de suporte, terapias focadas em autismo feminino, estratégias de manejo de estresse e desenvolvimento de habilidades sociais. Esses recursos ajudam a reduzir o isolamento e a fornecer um ambiente seguro onde as mulheres podem se expressar sem julgamento. Caminhos para a Prevenção Prevenir o suicídio entre autistas adultos, especialmente entre as mulheres, requer uma abordagem multifacetada. Algumas ações importantes incluem: Conscientização e Formação Profissional: É necessário que os profissionais de saúde mental estejam mais bem preparados para identificar autismo em mulheres, reconhecendo os sinais menos óbvios e evitando diagnósticos equivocados. Acesso a Serviços de Saúde Mental: Terapias adaptadas às necessidades autistas, como terapia cognitivo-comportamental voltada para autistas, são essenciais. Além disso, o suporte para comorbidades, como depressão e ansiedade, deve ser uma prioridade. Fortalecimento da Rede de Apoio: Criar espaços de convivência e apoio para mulheres autistas pode ajudar a reduzir o isolamento social. Grupos online ou presenciais podem ser uma forma eficaz de construir redes de solidariedade e suporte emocional. Uma Reflexão Pessoal Receber o diagnóstico de autismo aos 27 anos foi um ponto de virada em minha vida, mas também trouxe consigo um período de profunda dor e questionamento. Após o diagnóstico, fui tomada por um sentimento esmagador de perda, uma sensação de que toda a minha vida poderia ter sido diferente se tivesse recebido uma intervenção precoce. Os anos de camuflagem e de constante tentativa de me encaixar em um mundo que não foi feito para mim me levaram a um estado de esgotamento tão grande que, por um momento, pensei em tirar minha própria vida. Esse é o impacto do diagnóstico tardio: a sensação de que parte da sua vida foi roubada pela falta de compreensão e apoio. A jornada de aceitação é árdua, e muitas mulheres autistas, como eu, chegam a momentos de desespero por não saberem como lidar com esse novo entendimento de si mesmas. hoje, eu sei que meu diagnóstico não precisa ser o fim. Através de terapia e redes de apoio, percebi que não é tarde para buscar qualidade de vida e construir uma trajetória mais leve e autêntica. Por isso, é fundamental que a sociedade, os profissionais de saúde e as famílias compreendam a importância do diagnóstico precoce e da intervenção adequada. Ter uma rede de apoio, educação sobre o autismo e espaço para falar sobre as dificuldades sem medo de julgamento pode fazer a diferença entre viver com propósito ou ser tragada pelo silêncio do sofrimento. o meu passado não pode ser mudado, mas espero que, ao compartilhá-la, outras mulheres possam ser ouvidas, compreendidas e, principalmente, salvas.
O suicídio é uma questão de saúde pública que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo, mas há uma parcela da população que enfrenta um risco ainda maior: as pessoas autistas. Estudos globais e regionais têm revelado que o risco de suicídio entre adolescentes e adultos no espectro autista é significativamente maior do que entre a população neurotípica. Compreender esse risco e abrir diálogos sobre o tema é crucial para oferecer suporte adequado aos jovens autistas. O Contexto no BrasilNo Brasil, a discussão sobre a saúde mental de pessoas autistas ainda está em crescimento. De acordo com um estudo da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), divulgado em 2020, estima-se que pessoas no espectro autista sejam três vezes mais propensas a apresentar comportamentos suicidas em comparação à média nacional. Além disso, dados da Sociedade Brasileira de Psiquiatria revelam que aproximadamente 30% dos adolescentes autistas apresentam algum nível de depressão, uma das principais comorbidades associadas ao risco de suicídio.O número de diagnósticos de autismo tem crescido substancialmente, assim como a conscientização sobre o tema, mas o apoio psicológico adequado para jovens autistas ainda enfrenta desafios estruturais no Brasil. Faltam profissionais capacitados e programas de saúde mental que levem em consideração as particularidades da população autista, o que agrava os riscos. Dados Internacionais e Relevância para o BrasilUm estudo internacional realizado pela Autism Research demonstrou que adultos autistas têm sete vezes mais chances de pensar em suicídio em comparação com seus pares neurotípicos. Na adolescência, as meninas autistas, em especial, parecem enfrentar um risco ainda maior, com 66% delas relatando ideação suicida em algum momento da vida, de acordo com dados da Lancet Psychiatry Journal. No Brasil, ainda que não haja uma divisão tão clara por gênero, há evidências de que adolescentes autistas do sexo feminino enfrentam taxas mais elevadas de depressão e ansiedade, o que, por sua vez, aumenta a vulnerabilidade para pensamentos suicidas.As comorbidades, como depressão e transtornos de ansiedade, são mais comuns em pessoas autistas. Segundo o Ministério da Saúde, jovens autistas que enfrentam essas condições têm até quatro vezes mais chances de desenvolver ideação suicida. Fatores como o isolamento social, a dificuldade de comunicação e o bullying desempenham um papel importante no aumento desse risco.A Importância de Falar Sobre o Suicídio com Adolescentes Autistas Embora o suicídio seja um tema difícil de abordar, especialmente com adolescentes, é vital que as conversas sobre o assunto ocorram de forma aberta e adaptada para as necessidades de compreensão das pessoas autistas. Muitos adolescentes autistas têm dificuldades em expressar seus sentimentos e interpretar sinais sociais e emocionais, o que pode fazer com que seus sinais de angústia passem despercebidos. Por isso, é fundamental que pais, educadores e cuidadores estejam atentos e preparados para abordar o tema de maneira direta, sem eufemismos.Crianças e adolescentes no espectro do autismo frequentemente enfrentam sobrecargas sensoriais e emocionais, além de sofrerem bullying ou exclusão social. Um estudo de 2019, realizado pela Universidade de Brasília (UnB), mostrou que 55% dos jovens autistas relataram sentir-se frequentemente isolados de seus colegas. Esse isolamento pode aumentar a sensação de desamparo e, consequentemente, o risco de ideação suicida. Como Prevenir e ApoiarA criação de um ambiente de apoio e inclusão é uma das principais maneiras de reduzir o risco de suicídio em adolescentes autistas. A abordagem deve ser individualizada e considerar as particularidades sensoriais e emocionais de cada jovem. Algumas estratégias que podem ser adotadas incluem:Terapia comportamental e emocional: Trabalhar com terapeutas especializados no espectro autista pode ajudar os adolescentes a reconhecerem e expressarem suas emoções de maneira mais eficaz. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) tem mostrado ser especialmente útil na prevenção de crises suicidas. Apoio social: Incentivar a criação de redes de apoio entre pares e atividades que promovam a inclusão social pode ajudar a reduzir o isolamento. Grupos de apoio para famílias e adolescentes autistas também podem ser uma boa ferramenta.Educação emocional: Oferecer programas que ensinem sobre saúde mental e como lidar com o estresse emocional é fundamental para todos os adolescentes, mas principalmente para aqueles no espectro do autismo. Educar jovens autistas sobre como identificar e verbalizar suas emoções pode prevenir situações de crise.A Rede de Apoio no BrasilNo Brasil, instituições como o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferecem apoio emocional gratuito e confidencial para pessoas em crise. Além disso, algumas ONGs e grupos de apoio têm se especializado no suporte às famílias de crianças e adolescentes autistas, como a AMA (Associação de Amigos do Autista) e a Autismo & Realidade. Procurar por psicólogos e psiquiatras com experiência no tratamento de pessoas autistas pode fazer a diferença na prevenção e manejo de crises.ConclusãoFalar sobre suicídio com adolescentes autistas é uma ação necessária para a prevenção. Embora seja um tema delicado, proporcionar um ambiente seguro para que esses jovens possam expressar seus sentimentos e oferecer-lhes o suporte certo é vital para reduzir o risco de tragédias. Como sociedade, precisamos continuar a expandir a conscientização sobre a saúde mental de pessoas autistas e investir em serviços especializados que os ajudem a navegar pelos desafios únicos que enfrentam. Referências:1. Cassidy, S., et al. (2018). "Suicidality in autistic people: Risk factors, prevention, and the role of mental health care." Autism Research, 11(4), 488–501.2. Kirby, A. V., et al. (2021). "Prevalence and Predictors of Suicidal Ideation in Individuals with Autism Spectrum Disorder: A Systematic Review." The Lancet Psychiatry, 8(4), 320-328.3. Ministério da Saúde, Brasil. (2020). "Saúde Mental de Jovens Autistas: Dados e Recomendações."4. Universidade de Brasília (UnB). (2019). "Relatório sobre Inclusão e Saúde Mental de Adolescentes Autistas no Brasil."
Você sabia que há características sobrepostas no Autismo e na Superdotação?Como assim "sobrepostas"? Características semelhantes que podem ser confundidas!Compreender as diferenças e semelhanças entre autismo e superdotação é fundamental para reconhecer e apoiar corretamente as necessidades de cada indivíduo e também, para evitar que haja diagnósticos errados. Embora ambos possam compartilhar algumas características, como interesses profundos em áreas específicas, são condições distintas que requerem abordagens e suportes diferentes. Aqui, vamos explorar as principais diferenças entre autismo e superdotação e como suas características podem se sobrepor.Autismo - Entendendo o EspectroO Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurológica que afeta a comunicação, o comportamento e a interação social. Os critérios diagnósticos para autismo, segundo o DSM-5-TR (2022), incluem:Déficits na Comunicação Social:Dificuldades em iniciar e manter conversas.Problemas com comportamentos comunicativos não verbais, como contato visual e linguagem corporal.Dificuldades em desenvolver e manter relacionamentos.Comportamentos Repetitivos e Restritos:Movimentos motores repetitivos.Insistência em rotinas inflexíveis.Interesses intensamente focados e restritos.Sensibilidade anormal a estímulos sensoriais.Prejuízos no Funcionamento:Os sintomas causam prejuízos significativos no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida.Superdotação (AH / SD) - Compreendendo a condiçãoA superdotação refere-se a habilidades intelectuais excepcionalmente altas em uma ou mais áreas, como matemática, ciências, artes ou linguagem. Crianças superdotadas aprendem rapidamente e resolvem problemas complexos com facilidade. As características comuns incluem:Habilidades Cognitivas Elevadas:Alta capacidade intelectual em áreas específicas.Facilidade para aprender novos conceitos e resolver problemas complexos.Habilidades Sociais:Geralmente possuem boas habilidades sociais e são capazes de interagir eficientemente com os outros.Podem ser extrovertidos e gostam de compartilhar conhecimentos e ideias.Interesses e Comportamentos:Possuem interesses profundos em áreas específicas, mas também têm uma variedade de interesses.Demonstram flexibilidade em suas atividades e podem se adaptar bem a mudanças.Sensibilidade Emocional:Podem ser emocionalmente mais sensíveis, mas geralmente entendem e respondem adequadamente às emoções dos outros.Funcionalidade Diária:Funcionam bem em ambientes variados e podem se adaptar facilmente a diferentes situações e contextos.Diferenças Cruciais e Características SobrepostasEmbora autismo e superdotação possam compartilhar um profundo interesse em áreas específicas, há diferenças significativas:Comunicação Social:Crianças autistas frequentemente têm dificuldades significativas na comunicação social, enquanto crianças superdotadas geralmente possuem boas habilidades sociais, podendo ter dificuldades para se engajar em diálogos ou interagir com outras crianças por não ter interesse em assuntos que possam parecer supérfluos ou sem sentido.Comportamentos Repetitivos:O autismo é frequentemente associado a comportamentos repetitivos e uma necessidade extrema de rotina, podendo ter crises emocionais quando essa rotina não é seguida, enquanto a superdotação geralmente não apresenta essas características.Interesses Restritos:Crianças autistas podem ter interesses altamente restritos e fixos, enquanto crianças superdotadas podem ter uma gama mais ampla de interesses.Dupla Excepcionalidade: O desafio das Duas Condições em um mesmo indivíduoA dupla excepcionalidade refere-se a indivíduos que são superdotados e também apresentam algum tipo de deficiência, como autismo, TDAH, dislexia, entre outros. No caso de superdotação e autismo, esses indivíduos possuem habilidades cognitivas elevadas em áreas específicas, enquanto enfrentam dificuldades relacionadas ao espectro autista.Nesses casos, é necessário que haja um diagnóstico diferencial, já que um pode interferir no outro. Como assim?Devido à Superdotação, indivíduos com Dupla Excepcionalidade podem ter uma facilidade maior para esconder características do Autismo, culminando assim na falta de suporte adequado, maior propensão para desenvolver comorbidades como depressão e transtorno de ansiedade generalizada e outros problemas.O contrário também pode acontecer! Um indivíduo com TEA acabar não tendo todo o seu potencial extraído devido às características do Autismo. Quando não há suporte e tratamentos adequados, o transtorno pode acabar ficando em maior evidência que as capacidades e potencialidades que o indivíduo possui.A Importância de Compreender as DiferençasCompreender as diferenças entre autismo e superdotação é essencial para proporcionar o suporte adequado a cada criança. Reconhecer e diferenciar essas condições ajuda pais, educadores e profissionais a criar estratégias de apoio eficazes, garantindo que cada criança possa desenvolver todo o seu potencial.Se você suspeita que seu filho pode ser autista ou superdotado, procure uma avaliação profissional para obter um diagnóstico preciso e orientações sobre intervenções apropriadas. Na Mundo Kids, temos uma equipe multidisciplinar preparada para identificar cada uma dessas condições e realizar intervenções adequadas, de acordo com a individualidade de cada indivíduo.Por Débora OliveiraAutista + AH/SD | Ativista da causa autista | Estudante de Psicologia | Colaboradora MK
Olá, sou Débora Oliveira e gostaria de compartilhar com vocês minha experiência com o diagnóstico tardio de autismo. Para muitas pessoas, a descoberta tardia pode parecer um choque, mas para mim, foi uma verdadeira libertação.Minha ExperiênciaApesar de meu diagnóstico ter sido fechado em abril de 2022 (coincidentemente, no mês da Conscientização do Autismo), eu já desconfiava que poderia ser autista oito meses antes. No entanto, entrei em um estágio de negação, tentando mentir para mim mesma que não tinha nada. Essa negação durou até o momento em que finalmente entendi que negar não adiantava em nada. Se eu realmente fosse autista, o autismo não sumiria por eu não aceitar, ao contrário, ele continuaria me causando prejuízos e eu continuaria sem qualidade de vida devido à falta de tratamentos adequados.Precisei compreender que o diagnóstico não era algo novo. Eu estava apenas ganhando um vocabulário novo para conseguir nomear tudo o que as pessoas ao meu redor sempre questionaram e que eu não tinha vocabulário para explicar o que era.A Ansiedade Durante as Avaliações para Fechamento do DiagnósticoQuando surge a dúvida "ser ou não autista", buscar pelo diagnóstico traz um misto de emoções. Por mais que haja medo do sim, muitas vezes o medo do "não" pode causar uma ansiedade ainda maior. Se há a dúvida do TEA (Transtorno do Espectro Autista), é porque há sérios problemas e não tem como fugir da pergunta: "Se não for autismo, vai ser o quê?". Esse questionamento traz medo, e o medo é um dos principais gatilhos para a ansiedade generalizada, o que faz esse processo ser ainda mais difícil.Não é que queiramos ser autistas (e não é uma escolha), mas após anos se sentindo diferente e não pertencente a nada deste planeta, estar diante da possibilidade de finalmente se entender, de ganhar um vocabulário para explicar essas diferenças, traz um alívio que é libertador.O Medo do Diagnóstico e a Esperança de RespostasPor mais que o autismo seja algo difícil, desafiador e muitas vezes doloroso, pensar na possibilidade de ouvir um "não é isso" após as investigações e avaliações neuropsicológicas causa medo e traz a sensação de fracasso. Pensar na provável repetição de ciclos em busca dos nossos "porquês" ao invés de caminhar para a próxima etapa é desanimador. Provavelmente as coisas seriam mais fáceis se não tivéssemos o TEA, mas hoje, após anos convivendo com isso sem saber o que era, receber o diagnóstico é precioso!O Início de uma Nova JornadaReceber o diagnóstico é encerrar o ciclo de buscas por respostas e iniciar a etapa de cuidados corretos, aprendendo a se aceitar, se amar e respeitar seus próprios limites. O diagnóstico tardio me deu um novo norte, explicações para tudo que sempre esteve aqui, mas que eu não sabia explicar e abriu oportunidades para que eu recebesse tratamentos corretos e buscasse meu bem-estar e qualidade de vida.Para Quem Recebeu o Diagnóstico RecentementeLembre-se: não é nada novo. O diagnóstico só chegou para que você aprenda a nomear e explicar tudo que sempre esteve aí, sendo sufocado e reprimido pela tentativa incessante de se encaixar.Se você está passando por isso, saiba que não está sozinho. A aceitação e a busca por tratamento adequado são os primeiros passos para uma vida mais plena e consciente.
Nos últimos anos, a educação infantil tem passado por transformações significativas, refletindo as mudanças e necessidades da sociedade contemporânea. Em 2024, um dos tópicos mais discutidos e implementados é a inteligência emocional (IE) na educação das crianças. Vamos explorar o que é a inteligência emocional, por que é importante e como pode ser integrada no dia a dia das crianças. A inteligência emocional refere-se à capacidade de reconhecer, compreender e gerenciar nossas próprias emoções, assim como reconhecer, compreender e influenciar as emoções dos outros. Segundo o Comitê para Crianças, a IE inclui habilidades como autoconsciência, autocontrole e habilidades interpessoais que são vitais para o sucesso escolar, no trabalho e na vida. Estudar e aplicar esses conceitos desde cedo pode trazer benefícios duradouros para o desenvolvimento infantil. Estudos têm mostrado que crianças com altos níveis de inteligência emocional tendem a ter melhor desempenho acadêmico, melhores habilidades sociais e menor propensão ao abandono escolar. Além disso, essas crianças estão mais bem equipadas para lidar com desafios e tensões, desenvolvendo resiliência e empatia desde cedo. Um estudo da Harvard Graduate School of Education indica que programas de aprendizado social e emocional podem melhorar a performance acadêmica em até 11%, além de reduzir problemas de comportamento e aumentar as habilidades sociais e emocionais. Criar um ambiente onde as crianças se sintam seguras e apoiadas é fundamental. Isso envolve incentivar a expressão aberta de emoções e oferecer suporte quando necessário. Em sala de aula, professores podem utilizar materiais educativos que abordam temas como empatia, resolução de conflitos e compreensão emocional. Histórias que exploram emoções e atividades de atenção plena são exemplos práticos. Além disso, programas estruturados de educação emocional podem ser integrados ao currículo escolar, proporcionando às crianças ferramentas para melhor compreender e gerir suas emoções. Dedicar tempo para ensinar habilidades de IE de forma explícita, através de jogos, dinâmicas de grupo e discussões guiadas, ajuda as crianças a reconhecer e gerenciar suas emoções de maneira eficaz. Ferramentas tecnológicas, como aplicativos de aprendizado emocional, podem complementar o ensino tradicional, oferecendo recursos interativos e personalizados que ajudam as crianças a praticar e melhorar suas habilidades emocionais de maneira divertida e envolvente. Por exemplo, aplicativos que ensinam habilidades de IE através de jogos podem ajudar as crianças a aprender sobre empatia, autocontrole e comunicação de forma lúdica. Desenvolver a inteligência emocional desde cedo prepara as crianças não só para o sucesso acadêmico, mas também para uma vida adulta equilibrada e saudável. Crianças emocionalmente inteligentes são mais capazes de formar relações positivas, resolver conflitos de forma pacífica e tomar decisões bem-informadas. Segundo Daniel Goleman, autor do livro "Inteligência Emocional", habilidades emocionais e sociais são tão importantes quanto as habilidades cognitivas para o sucesso na vida. Em 2024, a integração da inteligência emocional na educação infantil não é apenas uma tendência, mas uma necessidade. Ao investir no desenvolvimento emocional das crianças, estamos preparando-as para enfrentar os desafios do futuro com confiança e empatia. Os benefícios a longo prazo do desenvolvimento da IE são imensos. Crianças que aprendem a gerenciar suas emoções tendem a se tornar adultos mais felizes, saudáveis e bem-sucedidos. Elas estão mais preparadas para lidar com o estresse e os desafios da vida, construindo relacionamentos fortes e saudáveis ao longo do caminho. Além disso, a IE promove um ambiente escolar mais positivo e inclusivo, onde todos os alunos se sentem valorizados e compreendidos. Portanto, à medida que avançamos em 2024, a ênfase na inteligência emocional na educação infantil deve ser vista como uma parte crucial do desenvolvimento integral das crianças. Ao criar um ambiente que nutre e apoia o desenvolvimento emocional, estamos moldando a próxima geração para ser mais compassiva, resiliente e preparada para o futuro.Referências:https://hewlett.org/https://www.gse.harvard.edu/ideas/usable-knowledge/16/07/what-makes-sel-workhttps://www.ryangroup.org/blog/parenting-and-early-childhood-education-in-2024-top-trends-to-watch/
A palavra inclusão vem da ideia de que as pessoas nascem com diferenças que se acentuam e se modificam. Não há diferenças que são melhores ou diferenças piores. O que existe é a diversidade humana.O uso de termos adequados para se referir a pessoas com deficiência é fundamental para não perpetuar conceitos equivocados ou obsoletos. É muito comum vermos as pessoas e estabelecimentos nos dias de hoje ainda utilizando a expressão PNE (Portador de Necessidade Especial), Pessoa Deficiente, Pessoa com Necessidades Especiais, tanto na forma escrita quanto na falada. Mas, você sabia que estas siglas não deveriam ser mais usadas? Desde o dia 3 de novembro de 2010, que o termo "Pessoa portadora de Deficiência" foi substituído, segundo o que confirmava a tendência mundial, por "Pessoa com Deficiência". (Portaria da Presidência da República - Secretaria de Direitos Humanos, Nº 2.344, de 3 de novembro de 2010).O termo PNE foi alterado porque a deficiência não se porta, não é um objeto, a pessoa tem uma deficiência, faz parte dela. O termo recomendado hoje é a sigla PcD, que significa “pessoa com deficiência” ou “pessoas com deficiência”. Não há necessidade de se colocar “s” quando usamos o plural, e o “c” é sempre minúsculo. Este termo é o mesmo que está sendo usado atualmente em âmbito mundial. Em espanhol: PcD – persona con discapacidad, em inglês: PwD – person with a disability, persons with disabilities, people with disabilities. Então, precisamos usar o termo correto para não cometer preconceitos desde a forma de tratá-los. Sobre o termo PNE Pessoa com Necessidades Especiais, este termo é mais abrangente e inclui idosos, pessoas com distúrbios psicológicos e qualquer outra patologia ou condição mesmo que temporária, que a deixe fora de sua plena capacidade de independência, ou que necessite de algum tratamento ou adaptação para manter tal independência. Já o termo PcD Pessoa com Deficiência é usado para se referir a pessoas com um ou mais tipos de deficiência (física, auditiva, visual ou intelectual). Resumindo, todo deficiente é um PNE, porém nem todo PNE é um PCD.Para facilitar a comunicação, eu trouxe algumas dicas para ajudar na comunicação ao falar sobre este assunto. As pessoas se preocupam ao falar para não discriminar, mas, às vezes, superestimam as pessoas com deficiência. É muito importante não esquecer que pessoas com deficiência, antes de tudo, são pessoas.1) Fuja da Palavra “especial”, ou “mãe especial”. Durante muito tempo, as pessoas usavam essa palavra para “compensar” a deficiência. Hoje, ainda é usada quando falamos de educação (necessidades educacionais especiais), mesmo assim, é preferível dizer “necessidades específicas”.2) Não tenha receio de usar a palavra “deficiência”, “deficiente”. As deficiências são reais e não há por que disfarçá-las. Os termos como “cegueira” e “surdez” podem ser usados.3) Não reforce estereótipos como, por exemplo: trabalhadores com deficiência são melhores e mais esforçados do que os trabalhadores sem deficiência, chegam na hora, não faltam; pessoas com síndrome de Down são anjos, ingênuos e carinhosos; funcionários cegos têm muita sensibilidade etc. - "Apesar de deficiente, ele é um ótimo aluno". Nesta frase há um preconceito embutido: 'A pessoa com deficiência não pode ser um ótimo aluno'. O mais apropriado seria: "Ele tem deficiência e é um ótimo aluno”. - "Ela é cega, mas mora sozinha". Nesta frase também tem um preconceito embutido: 'Todo cego não é capaz de morar sozinho'. Em vez disso, diga: "Ela é cega e mora sozinha". - "Ela foi vítima de paralisia infantil". Esta pessoa "teve poliomielite", "teve pólio" ou "teve paralisia infantil". Enquanto estiver viva, ela tem sequela de poliomielite. A palavra "vítima" provoca sentimento de piedade. - "Ela teve paralisia cerebral" (referindo-se a uma pessoa viva no presente). A paralisia cerebral permanece com a pessoa por toda a vida. Portanto, "ela tem paralisia cerebral".4) Não use para se referir a pessoas ou deficiências os termos ou expressões: defeituosa, excepcional, doença, erro genético, paralítico, ceguinho, mudo, mongoloide, retardado, mutação, sofrer, anomalia, problema, probleminha, preso ou condenado a uma cadeira de rodas.CUIDADO COM A CONOTAÇÃO: 5) O epilético, o deficiente, o paralisado cerebral. Em vez de "epilético", "deficiente" e "paralisado", use "pessoa com epilepsia", "pessoa que tem epilepsia", "pessoa com deficiência", "pessoa com paralisia cerebral". Prefira sempre destacar a palavra "pessoa", pois a sua omissão pode fazer a pessoa inteira parecer deficiente.Você sabia que todo autista é considerado uma Pessoa com Deficiência? A Lei 12.764 de 27/12/2012 de Berenice Piana diz no artigo 1º, § 2º que “A pessoa com transtorno do espectro autista é considerada pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais.” E a Lei Brasileira da Inclusão da Pessoa com Deficiência diz que Lei 13.146 de 06/07/2015 no artigo 2º “Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”. Sendo assim, as pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista) tem os mesmos direitos que uma pessoa com deficiência, física, visual, etc.No autismo, qual o termo correto? Pessoa autista ou pessoa com autismo?Este termo ainda vem sendo discutido, autistas que lutam pela neurodiversidade preferem ser chamados de pessoa autista, já algumas mães de autistas preferem pessoa com autismo ou pessoa com TEA. Os três termos são válidos. O mais importante é levar em conta as preferências daqueles com a condição. Pergunte como a pessoa gostaria de ser tratada.Agora você pode adequar o seu estabelecimento e repassar estas informações aos seus colaboradores. Texto escrito por: Amanda Ribeiro, Mãe do Arthur, 5 anos, autista. | Autora do Blog @mamaequeviaja & Diretora da Incluir Treinamentos | Colunista de Acessibilidade e Inclusão
OS DESAFIOS DA FASE ADULTA: O Transtorno do Espectro Autista (TEA), uma condição neurológica que afeta a comunicação, interação social e comportamentos, tem sido cada vez mais reconhecido. Apesar dos avanços no entendimento e na conscientização sobre o espectro autista, os desafios enfrentados pelos autistas adultos, muitas vezes permanecem invisíveis para a sociedade em geral.Ao longo das últimas décadas, tivemos uma mudança significativa na percepção pública do autismo. Atualmente observamos que o assunto está inserido em discussões sociais de forma mais ampla do que há 20, 30 anos atrás, quando a visão da sociedade sobre o transtorno era vaga e pouco discutida. Embora as redes sociais estejam repletas de posts, vídeos de conscientização e profissionais dedicados a ensinar sobre o autismo, é evidente que, em sua maioria, as informações disponíveis ainda estão profundamente enraizadas na perspectiva infantil da condição.Historicamente, a maioria dos diagnósticos de autismo era atribuída a indivíduos com um nível mais significativo de suporte, enquanto aqueles com necessidades menos óbvias muitas vezes passavam despercebidos. No entanto, avanços em pesquisas e na compreensão do transtorno, incluindo as atualizações do DSM a partir de 2013, permitiram um melhor entendimento e maior número de diagnósticos de pessoas com diferentes níveis de suporte, resultando em um aumento exponencial de diagnósticos tardios. Muitos desses adultos diagnosticados tardiamente enfrentam uma jornada de busca por respostas ao longo da vida, frequentemente acompanhada por tratamentos errados e comorbidades adicionais, como Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) e depressão, resultantes da falta de diagnóstico, da ausência de tratamentos adequados e falta de adaptações necessárias para que tenham qualidade de vida. No entanto, mesmo após o diagnóstico, eles continuam a enfrentar um grande desafio: a invisibilidade de autistas adultos diante da Sociedade, uma realidade que afeta também, autistas diagnosticados na infância, que agora são adultos.Além dos desafios devido aos sinais do transtorno, essa invisibilidade faz com que esses adultos enfrentem uma dificuldade em comum: A Inclusão no Mercado de Trabalho e a Inclusão no Ensino Superior. OS DESAFIOS PARA A INCLUSÃO NO ENSINO SUPERIOR Mari e eu somos estudantes de Psicologia, de acordo com que enfrentávamos os desafios com a Inclusão dentro de sala de aula, percebemos que ser inclusas nesse ambiente era um desafio muito maior do que imaginamos antes de ingressar em nossa jornada de graduação. Por mais que a Faculdade oferecesse um determinado suporte, nossos desafios iam muito além de fazer provas em salas separadas dos demais alunos, precisávamos ter sido preparadas para enfrentar o ambiente acadêmico, precisávamos que as pessoas estivessem prontas ou dispostas a se prepararem para nos receber. Cheguei a um ponto em que as crises estavam ocorrendo todos os dias, durante duas semanas consecutivas e em um desses dias, quando percebi que estava prestes a entrar em crise, tentei pedir ajuda a uma professora, pedindo para conferir meu trabalho primeiro para que eu pudesse ir embora, e ao invés de receber suporte, ouvi somente a frase “é só você sentar na frente que tem menos barulho”. Obviamente não adiantou e tive que ir embora, mas esse dia me deixou a pensar “seria possível promover inclusão em um ambiente onde muitos profissionais/professores não sabem nem o mínimo sobre autismo em adultos?”. Se a inclusão em escolas, que muito é falado, já é difícil, imagina em um ambiente acadêmico, onde quase não se fala sobre inclusão de autistas? Onde muitos acreditam que somente autistas crianças precisam de adaptações e inclusão. A inclusão de estudantes autistas no ensino superior é um desafio complexo que requer uma compreensão aprofundada das necessidades específicas dessa população e a implementação de práticas educacionais inclusivas. O aumento da prevalência do TEA, associado às intervenções precoces e às políticas inclusivas, culminou na ampliação do acesso dos autistas ao ensino superior. Porém, quando comparado a outras deficiências, o TEA apresenta maiores índices de abandono acadêmico, menor empregabilidade e mais comorbidades psiquiátricas. A partir das nossas experiências e de estudos sobre a Inclusão no Ensino Superior, fizemos uma pesquisa de campo onde entrevistamos 20 autistas adultos: De 20, somente 8 finalizaram graduação Desses 8, somente 2 finalizaram a primeira graduação, os outros passaram por outros cursos até encontrarem um que conseguissem ir até o final. Dos 12 que não tinham formação em ensino superior, 8 tentaram e não conseguiram ir até o final e 4 não iniciaram por medo dos desafios e da falta de suporte nesse ambiente. Todos que iniciaram uma graduação, possuem relatos de bullying e dificuldades devido a falta de capacitação dos professores para lidar com autistas. Um relato em comum de todos e que também é um problema que merece atenção, é a dificuldade para descobrir suas aptidões, o que também influencia para que esses adultos iniciem e não terminem suas graduações. Sabemos que autistas possuem interesses restritos e também focos exagerados em determinados assuntos. Esse hiperfoco pode ser usado sim, para incluir o autista no mercado de trabalho, mas pode ser também um agravante, já que, podemos começar uma graduação em algo que não temos aptidão, somente por ser “o hiperfoco da vez”. A questão que surge diante de tudo isso é:O QUE FAZER PARA SOLUCIONAR ESTES PROBLEMAS? Além da necessidade de aumentarmos os movimentos de Conscientização sobre Autismo na vida adulta, é necessário que haja investimentos por parte das faculdades e do governo, em capacitação de seus professores, tanto quanto é necessário em escolas do ensino fundamental e ensino médio, tanto para redes públicas, quanto privadas. O suporte adequado e intervenções corretas também não pode ser negligenciado. Muitas vezes, quando o autista possui necessidade de menor nível de suporte, acaba tendo suas dificuldades negligenciadas. Deduzem que conseguimos fazer tudo sozinhos, que é só se esforçar que da certo e a falta desse suporte influencia para que essas desistências no ensino superior sejam maiores e também resultam em comorbidades como Depressão e TAG. Investir em intervenções, como as Oficinas de Habilidades Funcionais que temos na MK, também pode ser um excelente aliado nessa trajetória. Extrair o potencial de cada autista adolescente e adulto, descobrindo sua aptidão e dando suporte para que ele seja inserido no mercado de trabalho e na graduação, preparado-o para lidar com os prováveis desafios que surgirão. Assim, podemos minimizar os desafios que enfrentaremos em nossa jornada por busca de autonomia e qualidade de vida. Os autistas estão crescendo, as demandas da vida adulta estão surgindo e nós precisamos nos preparar para lidar com o mundo, mas o mundo também precisa estar preparado para nos receber.Por Débora Oliveira e Mary DiasAutistas e colaboradoras MK
Em Março celebramos o Mês da Mulher e gostaria de compartilhar não apenas minha experiência profissional, mas também minhas reflexões pessoais sobre o que observo e presencio diariamente sobre a maternidade atípica e a experiência materna das responsáveis pelas crianças que por mim passaram até hojeA maternidade atípica é uma jornada que transcende as narrativas convencionais. É um território onde as expectativas de gênero se mesclam com a realidade nada romantizada de criar e educar uma criança com necessidades especiais. Ao longo dos anos, testemunhei a força e a resiliência das mulheres que enfrentam esses desafios diariamente, mas também testemunhei o seu cansaço, a sua dor, toda a sobrecarga das imposições sociais do papel materno e também do papel de esposas.Quando vemos, principalmente em datas comemorativas como essa, a exaltação da imagem criada de uma mulher que precisa ser uma "super mãe e esposa", alimentada por uma sociedade que muitas vezes exige perfeição e sacrifício das mulheres, me preocupo com como essas mulheres devem se sentir ao serem enaltecidas por tudo aquilo que as vem consumindo... Porque a verdade é que não há super-heroínas aqui, apenas mães reais, com suas lutas e triunfos, suas dúvidas e suas esperanças. É uma jornada que exige coragem, compaixão e, acima de tudo, autenticidade e acolhimento das suas dores individuais para além da maternidade.Essas mulheres frequentemente carregam o fardo do cuidado parental sozinhas, pois esse foi o papel designado à elas pela sociedade, enfrentando uma pressão desproporcional para equilibrar as demandas da família, do trabalho e da vida pessoal. É uma carga pesada, muitas vezes acompanhada de culpa por não conseguir lidar com tudo como gostaria ou é exigida, levando à sensação de fracasso e solidão no seu sofrimento.Por isso, neste mês da mulher, quero honrar e reconhecer as mulheres, mães e cuidadoras, que enfrentam estes e outros desafios da maternidade atípica e lembrá-las de que que suas histórias são profundamente inspiradoras e suas batalhas são dignas de reconhecimento. Vocês merecem mais do que aplausos passageiros em uma data comemorativa; merecem um apoio constante e uma rede de solidariedade que as sustente em seus momentos mais difíceis, da mesma forma que você sustenta todos ao seu redor.E é nesse cenário, como psicoterapeuta, que eu vejo o poder transformador da terapia quando oferecida por alguém que compreende profundamente a realidade do autismo e das famílias atípicas. É num setting terapêutico especializado nas demandas particulares de uma família atípica que você encontrará um espaço seguro para explorar emoções, encontrar clareza e construir resiliência diante de todo esse peso que vocês costumam carregar sozinhas. É um lembrete de que não estão sozinhas, que há ajuda e esperança disponíveis.Então, neste mês e em todos os outros, vamos lembrar de cuidar daquelas que dedicam as suas vidas ao cuidado de outros. Vamos celebrar a coragem, a vulnerabilidade e a beleza das mulheres e cuidadoras que iluminam o mundo com seu amor incondicional. E que possamos, aqui no Instituto MK, contribuir para criar uma comunidade mais compassiva com essas mulheres, onde todas se sintam vistas, ouvidas e acolhidas como merecem.E para finalizar, hoje eu só quero que vocês se lembrem que quando sentirem que ninguém está vendo pelo o que estão passando, eu vejo vocês, vejo sua dor, seu cansaço e sua força. E que quando você mesma não conseguir se ver enquanto a mulher corajosa, sensível, humana e completa que você é, eu estarei aqui para que possamos juntas te levar a se enxergar, compreender e acolher novamente. ...Ana Júlia ArantesTerapeuta MK