2 de Abril - Uma data superimportante para a comunidade do Autismo. Dia em que o mundo ouve sobre Autismo, dia de conscientizar. Mas muito mais do que isso, dia de refletir sobre o que realmente é conscientizar, sobre o que cada um de nós pode fazer acerca da conscientização não apenas no dia 2 de Abril, mas em todos os dias.
Será que realmente podemos fazer algo, será que não podemos fazer nada? Mas como que faz pra conscientizar? Como faz para que todo mundo possa entender um pouco mais sobre o autismo e sobre os autistas? Será que estamos fazendo direito isso, será que a forma que eu busquei para conscientizar é efetiva?
Essas são perguntas que devemos nos fazer hoje e buscar uma resposta para por em prática durante todos os outros dias.
Mas por que dessa reflexão? Para que possamos achar meios de chegar ao objetivo de todos que estão nessa luta. O respeito e a verdadeira aceitação de todo o espectro do autismo.
E o que afinal estou querendo dizer com tudo isso? Para ficar mais claro vou falar do dia a dia, de como vejo o que ocorre na prática do cotidiano.
"Aí a mãe, o pai fala do seu anjo Azul. Ahh... Já vou arrumar confusão, não aceito esse negócio de anjo, absurdo!"
"Olha lá aquele autista dizendo que não gosta de ser chamado de anjo, imagina querer me ensinar como devo falar, Autista é um ser puro, logo essa pessoa aí não pode ser Autista!"
"Xiiiiiiii... Lá vem aquele médico falar em sair do Espectro. Ridículo, não existe esse negócio, vou lá brigar, embate é o que eu quero, não vou aceitar essa gente que só quer atrapalhar."
"Ehhh olha lá, a pessoa que se diz ativista fica querendo mudar tudo que já existe há tantos anos, imagina, eu sou cientista e estou usando termos técnicos, como que alguém vai querer contestar?"
Aí o Autista vem e fala:
"Não quero e não preciso que ninguém fale por mim... mas pode ter outro autista, logo ali ao lado que quer e que precisa que os pais ou que alguém fale por ele."
Aí o repórter vai falar de autismo em prol da causa e logo aparece um monte de gente criticando que ele não chamou nenhum Autista... Cadê a representatividade?
Mas será que essas pessoas são inimigas, será que buscam coisas diferentes, quem está certo e quem está errado? E só um grupo tá certo? Todo mundo tem que pensar igual?
O autista não é inimigo dos pais de autistas, os pais não são inimigos dos profissionais e os profissionais não são inimigos dos autistas e vice versa. Não podemos, com o intuito de conscientizar, jogar contra a causa.
Entendam, não existe A VOZ do Autismo!
Existem sim muitas vozes do Autismo.
Pais são "voz do Autismo"
Profissionais são "voz do Autismo"
E autistas são "voz do Autismo"
O Autismo tem e precisa de muitas vozes! E tem lugar de fala para todos.
Precisamos de união!
Precisamos ver quem é contra a causa e quem tem apenas uma opinião ou um conceito diferente do nosso.
O que conhecemos do Autismo é ainda só a ponta do iceberg, ou seja, sabemos ainda muito pouco sobre, apesar de todos os estudos e descobertas recentes. Resumindo, temos muitos conceitos e poucas definições ainda sobre o Autismo. E conceitos são variáveis, conceitos são mutantes, conceitos evoluem! Todos podemos evoluir e ficar rígido em nossos conceitos nos torna ultrapassados.
É sabido que o Autista tem uma rigidez de pensamento que é inerente ao próprio Espectro, mas não estou falando só para os autistas. Pais, profissionais e todos mais por vezes também insistem de forma até infantil e boba nessa rigidez, e isso não é benéfico para ninguém.
Diferenças podem existir e são passíveis de debate. Assim que se cresce e que os conceitos mudam e evoluem.
Então é necessário conversar, colocar argumentos e ouvir os argumentos alheios.
As coisas não podem ser o que eu quero apenas porque eu quero. É preciso argumentar e ser coerente para poder convencer.
Você por acaso já viu alguém convencer a outra pessoa desfazendo da mesma ou a agredindo?
Agredindo ou sendo rude você até pode "vencer" um embate, mas no fim será que venceu mesmo quando você apenas infla seu ego por ter diminuído o outro sem que o tenha convencido de fato?
Então vamos repensar! Queremos somar ou dividir? Buscamos crescimento ou apenas nos impor para nos sentirmos melhores?
Eu sempre digo que conscientização e inclusão começa dentro de casa, então vamos tratar de arrumar nossa casa, e por casa entendam a nossa comunidade, para que cresçamos juntos, para que tenhamos força e para que sejamos respeitados.
É demagogia achar que a mudança que queremos no mundo tem que começar pelo outro.
Termos podem mudar, ideias podem mudar, o que não pode mudar é a busca do melhor para todos.
Texto escrito por: Fábio A. Cordeiro, Autista, 41 anos | Funcionário Público Federal | Pai de dois meninos, um neurotípico e um autista | Colunista no vidadeautista.com.br | Membro da REUNIDA - Conselho do Autistas | Criador da maior página de humor autista do Brasil - @aspiesincero
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