Diagnóstico Tardio de Autismo: Da Negação à Libertação
23/07/2024
Por: Débora Oliveira | Autista e Colaboradora MK
Diagnóstico Tardio de Autismo: Da Negação à Libertação
Olá, sou Débora Oliveira e gostaria de compartilhar com vocês minha experiência com o diagnóstico tardio de autismo. Para muitas pessoas, a descoberta tardia pode parecer um choque, mas para mim, foi uma verdadeira libertação.
Minha Experiência
Apesar de meu diagnóstico ter sido fechado em abril de 2022 (coincidentemente, no mês da Conscientização do Autismo), eu já desconfiava que poderia ser autista oito meses antes. No entanto, entrei em um estágio de negação, tentando mentir para mim mesma que não tinha nada. Essa negação durou até o momento em que finalmente entendi que negar não adiantava em nada. Se eu realmente fosse autista, o autismo não sumiria por eu não aceitar, ao contrário, ele continuaria me causando prejuízos e eu continuaria sem qualidade de vida devido à falta de tratamentos adequados.
Precisei compreender que o diagnóstico não era algo novo. Eu estava apenas ganhando um vocabulário novo para conseguir nomear tudo o que as pessoas ao meu redor sempre questionaram e que eu não tinha vocabulário para explicar o que era.
A Ansiedade Durante as Avaliações para Fechamento do Diagnóstico
Quando surge a dúvida "ser ou não autista", buscar pelo diagnóstico traz um misto de emoções. Por mais que haja medo do sim, muitas vezes o medo do "não" pode causar uma ansiedade ainda maior. Se há a dúvida do TEA (Transtorno do Espectro Autista), é porque há sérios problemas e não tem como fugir da pergunta: "Se não for autismo, vai ser o quê?". Esse questionamento traz medo, e o medo é um dos principais gatilhos para a ansiedade generalizada, o que faz esse processo ser ainda mais difícil.
Não é que queiramos ser autistas (e não é uma escolha), mas após anos se sentindo diferente e não pertencente a nada deste planeta, estar diante da possibilidade de finalmente se entender, de ganhar um vocabulário para explicar essas diferenças, traz um alívio que é libertador.
O Medo do Diagnóstico e a Esperança de Respostas
Por mais que o autismo seja algo difícil, desafiador e muitas vezes doloroso, pensar na possibilidade de ouvir um "não é isso" após as investigações e avaliações neuropsicológicas causa medo e traz a sensação de fracasso. Pensar na provável repetição de ciclos em busca dos nossos "porquês" ao invés de caminhar para a próxima etapa é desanimador. Provavelmente as coisas seriam mais fáceis se não tivéssemos o TEA, mas hoje, após anos convivendo com isso sem saber o que era, receber o diagnóstico é precioso!
O Início de uma Nova Jornada
Receber o diagnóstico é encerrar o ciclo de buscas por respostas e iniciar a etapa de cuidados corretos, aprendendo a se aceitar, se amar e respeitar seus próprios limites. O diagnóstico tardio me deu um novo norte, explicações para tudo que sempre esteve aqui, mas que eu não sabia explicar e abriu oportunidades para que eu recebesse tratamentos corretos e buscasse meu bem-estar e qualidade de vida.
Para Quem Recebeu o Diagnóstico Recentemente
Lembre-se: não é nada novo. O diagnóstico só chegou para que você aprenda a nomear e explicar tudo que sempre esteve aí, sendo sufocado e reprimido pela tentativa incessante de se encaixar.
Se você está passando por isso, saiba que não está sozinho. A aceitação e a busca por tratamento adequado são os primeiros passos para uma vida mais plena e consciente.