Os marcos do desenvolvimento Infantil são um conjunto de habilidades que a maioria das crianças atingem numa determinada idade, a saber: linguagem, cognitivo, socioemocional e
motor. O desenvolvimento das mesmas vai depender basicamente de dois fatores: a carga genética de cada um e os fatores ambientais. Assim, estímulos externos positivos potencializam o nosso desenvolvimento e estímulos negativos (telas, abusos, etc) podem atrasar esse desenvolvimento.
Notar se uma criança está atingindo os marcos do DNPM pode ser difícil e inconclusivo, principalmente para pais jovens ou de primeira viagem ou ainda para pais superprotetores.
Justamente por isso é importante o acompanhamento com o médico pediatra rotineiramente, mês a mês nos primeiros seis meses de vida e posteriormente trimestralmente.
A importância de se estabelecer parâmetros no desenvolvimento infantil é a identificação de sinais e sintomas precoces de Transtornos do neurodesenvolvimento e a intervenção o mais breve possível, afim de desencorajar a conduta “whait and see” (de esperar para ver o que vai acontecer) e causar assim prejuízos ao desenvolvimento daquele indivíduo. Isso se deve ao fato deque nos primeiros três anos de vida o ser humano possui muito mais sinapses cerebrais se comparados ao adulto, ou seja, há mais neurônios aptos a aprender coisas novas. É a famosa neuroplasticidade dos primeiros anos de vida. Mas, para que ela seja aproveitada, mesmo no individuo com algum transtorno, é preciso utilizá-la e estimulá-la, caso contrario, ela não ocorrerá.
E, antes da eclosão da Pandemia de Covid-19, o CDC ( Center of Disease Control and Prevention ) encomendou e financiou a AAP (American Academy of Pediatrics) para a realização
de uma atualização nos marcos do DNPM com o objetivo de simplificar e otimizar o uso destes marcos para encorajar a intervenção precoce nos atrasos do DNPM. O estudo então foi publicado em 2022 e houve uma série de atualizações, principalmente na linguagem. Todavia, tal estudo vem sofrendo uma série de críticas, como a não participação de fonoaudiólogos nos estudos e o atraso na aquisição da linguagem. Além disso, trata-se de um estudo de revisão em que diversas decisões são baseadas em opiniões de especialistas e não necessariamente em evidências cientificas. Assim, por esta atualização, houve uma série de mudanças, sendo as mais relevantes na minha opinião:
- O estudo identifica os comportamentos que 75 % ou mais das crianças devem apresentar em determinada idade e não mais 50 % como se fazia anteriormente;
- Acréscimo das idades de 15 e 30 meses na avaliação;
- Atraso na idade de aquisição da linguagem/fala – anteriormente uma criança de dois anos deveria ser capaz de dizer 50 palavras, sendo este marco transferido para crianças de dois anos e meio e meio, dentre outros exemplos;
- 67,7 % dos marcos foram remanejados para idades mais avançadas
Assim, contraditoriamente ao objetivo do estudo, que seria o de identificar precocemente os sinais e sintomas de atraso e a intervenção precoce para aproveitar ao máximo a neuroplasticidade cerebral, a atualização nos traz a impressão de que está sendo encorajado a conduta de esperar para ver e não o de intervir precocemente. Penso que na prática continua valendo o mantra: “Reconheça os sinais, aja cedo". Para isso, não deixe de acompanhar o DNPM do seu filho com o pediatra e na dúvida, estimule!
Texto escrito por: Rafael Monteiro Bruno, neuropsiquiatra na Clínica Mundo Kids.
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