Olá a todos, eu sou o Fábio, autista nível 1 e hoje vou falar como pai de autista para os pais e mães de pessoas autistas.
Nesse tempo em que estou envolvido nesse mundo do ativismo em prol da causa do autismo, tenho tido contato com milhares de pais e mães de crianças autistas e um assunto é sempre recorrente.
"Como será o futuro dos nossos filhos?"
Logo que se recebemos o diagnóstico e mesmo após assimilarmos essa notícia que traz uma reviravolta à vida da família, essa é a maior interrogação que se coloca nas nossas mentes.
Quase que diariamente pais vêm até mim com as mesmas preocupações. "O que será do filho quando eu não puder mais estar presente?"... "como meu filho será quando for adulto?"... "será que terá autonomia?"
Aí corremos contra o tempo, contra as finanças, contra até mesmo as baixas expectativas que toda uma sociedade movida pela busca de um padrão de normalidade tenta nos impor.
É uma luta árdua, dura e cheia de incertezas. Porque o amanhã é incerto e quem tem um filho atípico sabe muito bem disso. Sente na pele isso e vê seu próprio filho sentindo no cotidiano o peso dessas incertezas e imposições sociais, pois afinal vivemos em sociedade e a pessoa autista, por mais que algum mito diga o contrário, também busca inserir-se.
E leva para terapia, busca na terapia, procura uma abordagem que traga melhores resultados, leva nas consultas, briga na escola, troca de escola, arranja outro emprego ou larga o emprego para poder dar conta de tanto ir e vir.
O orçamento aperta, a culpa por não conseguir estar dando um pouco mais ocasionalmente aparece, e tudo isso em função da busca pelo que meu filho será no futuro, por quem ele será e como ele será. Tudo para que ele possa atingir o seu ideal. E qual pai ou mãe não quer que os filhos atinjam seus ideais não é mesmo?
Acontece que nesse caminho todo não podemos esquecer de algo muito importante e esse é o alerta que busco com esse texto. O agora! É o que o título diz e é o que espero que todos que estão lendo reflitam. E o agora?
Essa é uma pergunta que devemos fazer a nós mesmos porque é óbvio que devemos nos preocupar com o futuro e buscar o melhor, mas nesse caminho não podemos esquecer do hoje, do presente. Porque é hoje que estamos aqui com nossos filhos, e agora que estamos vivendo esse momento único de podermos ser o pai que é o herói, a mãe que protege de tudo e que é infalível aos olhos do filho.
Temos que entender que nossos filhos são perfeitos hoje, que o filho ideal já está diante de nós e que ele é o melhor que pode ser agora. Que ele pode sim evoluir com a sua ajuda mas que o que ele é agora faz parte desse caminho e esses momentos não devem ser descartados ou atropelados em nome de um futuro que como já disse, é incerto.
Daqui alguns anos ninguém sabe como será. Pode ser que eu esteja ainda ao lado do meu filho, pode ser que já tenha partido; pode ser que meu filho fale ou pode ser que se comunique de outra maneira; pode ser que ele viva sozinho ou que precise dos cuidados de alguém para auxiliá-lo. Tantas coisas que podem ser e que ainda teremos que nos preocupar por muito tempo.
Reforço que não estou dizendo que não temos que nos preocupar. Apenas peço para que não deixem de olhar para o agora, porque o agora passa voando e esses momentos vão fazer a diferença na vida e na lembrança do seu filho e claro, nas suas lembranças também.
Penso que para ser um adulto feliz o melhor caminho é ser uma criança feliz. Com a aceitação o caminho para uma vida plena torna-se menos pesado e a aceitação tem que começar dentro do lar. Entender que o filho é perfeito não vai contra buscar um futuro melhor, pois qualquer ser humano tem o direito de ter ajuda para transpor suas dificuldades sem deixar de ser quem é.
Então meus amigos, sigam na luta por um futuro melhor mas sem abdicar do agora. Curtam seus filhos hoje, tire a cabeça um pouco da incerteza do "como será" porque ainda terão uma vida para pensar nisso, e aproveite o agora para que quando esse futuro chegar seu passado com seu filho não tenha sido apenas um estalo vazio e sem lembranças.
Deixe seu filho ser criança e não apenas um projeto de adulto. Sejam pais e não apenas videntes que só miram no futuro!
Abraços.
Texto escrito por: Fábio A. Cordeiro, Autista, 40 anos | Funcionário Público Federal | Pai de dois meninos, um neurotípico e um autista | Colunista no vidadeautista.com.br | Membro da REUNIDA - Conselho do Autistas | Criador da maior página de humor autista do Brasil - @aspiesincero
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