Agosto é o mês que marca o Dia dos Pais. Eu tive um pai presente, que esteve comigo nos momentos alegres e também nos difíceis. Também sou pai de dois filhos lindos, um já adulto e outro na adolescência. Sempre fui um pai presente.
Sou uma pessoa autista, passei por muitos desafios na infância e na adolescência, principalmente na escola, mas também em outros contextos onde questões relacionadas ao TEA me afligiam. E nem ao menos um diagnóstico tive a oportunidade de conseguir para ajudar no direcionamento nesse caminho, já que há décadas era quase impossível ter essa resposta para a condição em que eu existo.
Ter meu pai me apoiando fez toda a diferença quando, mesmo sem saber que seu filho era uma pessoa neurodivergente, ele lutava para que minha maneira de existir, mesmo que na época essa maneira não tivesse um nome, fosse respeitada. Ele brigou muito por mim ao lado de minha mãe.
As mães de filhos autistas são pioneiras nessa luta por inclusão e aceitação dos filhos. A minha também foi assim com seus três filhos autistas. Não tínhamos, pela falta de diagnóstico, o nome para nossa condição na nossa infância e adolescência, tampouco as mães que criavam os filhos autistas tinham um termo que as definissem.
Hoje, com melhores possibilidades de diagnóstico, com a chance de ter o diagnóstico dos filhos muito mais precocemente, elas têm a possibilidade de criarem seus filhos já com um direcionamento melhor e com manobras e direitos para a inclusão, muitos conquistados à base de suas próprias batalhas. Elas se dizem mães atípicas, mães de crianças que existem de maneira atípica.
Para os pais, eu penso que é um pouco diferente. Infelizmente, ainda hoje, muitos pais abandonam essa jornada da paternidade de um filho (a) autista. O número de homens que largam a família quando descobrem que o filho (a) está dentro do Espectro do Autismo ainda é assustadoramente grande. E, quando digo largam, estou falando dos pais que vão embora e, quando muito, pagam uma pensão e fazem uma visita ou outra, mas também dos que não vão embora, mas não estão na criação de maneira participativa. Deixam a prole de lado mesmo vivendo no mesmo lar.
E aí vemos que é típico que os lares de crianças autistas sejam sustentados pelas mães atípicas. O pai atípico vai embora. Não serve a ele então o título de pai atípico.
Falando de mim, não tenho muita predileção pelo termo pai atípico, pois acho que deveria ser comum que o pai fosse protagonista da criação ao lado da mãe, se essa for a configuração daquela família. Deveria ser típico do pai cuidar. Para mim, cuidar de meus filhos é natural e ainda hoje, com 43 anos de idade, grito socorro ao meu pai, se necessário.
Com isso, sou levado a conceber que o termo pai atípico me serve, não apenas por ficar ao lado de meus filhos, atípicos ou não, mas por ainda ser parte de uma minoria que são os que ficam. Mães, quando se dizem atípicas, estão se referindo à condição dos filhos (as). Pais, quando são atípicos, referem-se ao fato de que o típico é ir embora e deixar tudo para as mães cuidarem.
Então, aos pais que ficam, feliz Dia dos Pais! Aos que foram, lamento que esse comportamento ainda seja típico desses homens que não podem ser chamados de pais atípicos. Pensando bem, nem mesmo podem ser chamados de pais.
Por Fábio Cordeiro
Presidente da ONDA-Autismo
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