Algumas famílias chegam na clínica após seu filho(a) ter recebido o diagnóstico de autismo e com muitas dúvidas de como eles deverão agir partindo deste diagnóstico. Uma das mais comuns que normalmente eles têm, é se o seu filho vai se desenvolver e como a ABA pode ajuda-lo nesse processo. Então primeiro vamos entender o que é ABA e alguns modelos de ensino que são mais usados partindo dessa ciência.A Análise do Comportamento Aplicada, ou ABA da sigla em inglês para Applied Behavior Analysis, é definida como uma ciência aplicada, ou seja, que se aplica, diante de um dos três pilares da Análise do Comportamento, sendo os outros dois da filosofia, que é denominada por Behaviorismo Radical, baseada na obra de Skinner, e na área de pesquisa, a Análise Experimental do Comportamento.As intervenções em ABA têm como principal objetivo ampliar repertórios comportamentais dos indivíduos e diminuir a frequência e/ou a intensidade de comportamentos indesejáveis ou com pouca adaptação.É importante destacar que as intervenções em ABA requerem uma avaliação sempre cuidadosa, com uma coleta de dados sobre os fatores que influenciam cada comportamento. Essa coleta visa analisar o progresso individual e auxiliar na tomada de decisões em relação ao programa de intervenção e soluções para os comportamentos desafiadores/inapropriados. Quando Ivar Lovaas, em 1987, fez seus primeiros estudos utilizando da ABA com crianças autistas, ele enfatizou a que a terapia fosse intensiva, fazendo-se necessária de 20 a 40 horas semanais a fim de obter os melhores resultados. Nos dias atuais vemos que as crianças que recebem essa carga horária semanalmente apresentam excelentes resultados e dependendo dos sintomas, muitos deles chegam a ser eliminados e transferidos em ganhos comportamentais.É importante também destacar que a ABA não é só para o tratamento de pessoas com autismo. Ela é uma ciência que está presente em todos os contextos a fim de promover a modificação do comportamento, seja no esporte, na economia, na escola, e na vida de qualquer indivíduo. Quando falamos de ABA, devemos salientar que para cada criança existe um Plano de Ensino Individualizado, que chamamos de (PEI). Após a criança passar por uma avaliação criteriosa e ser verificada as necessidades iniciais, é então, elaborado um PEI com as metas de ensino que deverão ser aplicadas em casa, no consultório e nas outras terapias que a criança faz. Todos os objetivos de ensino são traçados de forma individual para cada criança. Justamente por isso ABA não é um método! Quando falamos em método, entendemos que, o que faremos com uma pessoa poderá ser feito para todos e é por isso que a ABA não é um método. Levando em consideração que cada indivíduo é um, com a sua particularidade e necessidade.
Me chamo Juliana, sou natural de São de Paulo e moro em Goiânia desde o ano de 2006. Minha família é bem dividida, alguns moram aqui em Goiânia, outros em São Paulo, e outros em Palmas- Tocantins. Antes de fazer psicologia meus familiares me diziam que eu tinha que fazer medicina e ser pediatra por gostar e me dar tão bem com as crianças. Logo, não quis prestar vestibular para medicina e “cai” na psicologia sem se quer imaginar que queria essa área. Na primeira semana de aula do curso, uma professora que dava a matéria de desenvolvimento perguntou para todos os alunos da sala por que eles estavam ali, eu fui uma das poucas que não soube o que responder, só sabia que precisava estar ali. Não demorou muitos dias ou meses pra eu ter a certeza que aquele curso teria sido uma das melhores escolhas da minha vida. Ainda no primeiro semestre tive uma professora da área comportamental que marcou a minha vida e no final do curso ela acabou se tornando a minha orientadora. As primeiras aulas dela sobre a Análise do Comportamento me fez ter a certeza sobre a minha profissão e o que queria definitivamente pra minha vida. Desde então começou minha jornada acadêmica, e ao chegar no 4º período do curso de psicologia comecei a olhar algumas opções de estágios, foi então que encontrei um cartaz exposto na universidade que nele dizia, que uma clínica de psicologia estava selecionando acompanhantes terapêuticos para trabalhar com crianças autistas. Até então eu não sabia o que era o autismo e não tinha tido nenhum contato ainda com uma pessoa do espectro, ou pelo menos achava que não.Fui então selecionada e desafiada a ir para uma outra cidade todos os dias que fica aproximadamente 60km de Goiânia para atender uma criança autista. Essa criança tinha 2 anos de idade e tinha acabado de receber o diagnóstico de TEA.Então, ali eu cheguei “de paraquedas” toda feliz que brincaria com uma criança, além de sentir a responsabilidade que eu teria no desenvolvimento dela. Lembro- me como se fosse hoje do nosso primeiro encontro, a criança estava deitada no sofá da sala com uma mamadeira, eu cheguei, cumprimentei os pais que por sinal estavam super ansiosos e a doce babá que o acompanhava. Me aproximei do sofá sentada no chão e comecei a chamá-lo pelo nome, fiz brincadeiras, cantei, pulei na frente dele, tudo que vocês podem imaginar que uma pessoa faria para ter atenção. Ali então, permaneci por duas horas consecutivas, e nesse período ele se quer me olhou ou me notou. Parecia que eu e a parede eram a mesma coisa, sai daquela casa com o coração doendo, me sentindo incapaz, sem sequer entender o porquê de ele não ter me olhado, pois tinha feito tanto esforço para ele simplesmente me olhar. No caminho de volta pra casa fiz inúmeros questionamentos, e em todos eles não encontrava uma explicação.No dia seguinte eu estava lá, resiliente e cheia de expectativas, comecei a pegar tudo que ele tinha na casa e no quarto para brincar e mais uma vez, nada! Ele se quer olhava pro que eu fazia, então decidi simplesmente parar o que eu estava fazendo e decidi apenas observá-lo, e foi aí que eu encontrei uma “chave” de abertura para a nossa relação. Anteriormente eu tinha colocado um caixa de formas geométricas no chão, ele então foi até ela, pegou as chaves que compunha essa caixa e começou a sacudi-las, foi a partir daí que eu tive um “clique”. Ele gosta de coisas que balançam, mas em todas, são coisas específicas, logo comentei com os pais dele que ainda não tinham notado o que ele gostava de brincar e como brincava.Naquele dia fui embora para casa cheia de alegria e comecei criar várias coisas para brincar com ele, eu dormia e acordava pensando em estratégias que eu poderia fazer para ganhar a atenção daquela criança, sabia que o vínculo seria a base para que eu pudesse executar o meu trabalho com ele. Os dias se passavam e cada vez mais ele me mostrava a forma especifica com que gostava de brincar e a especificidade com cada objeto que por sinal não eram brinquedos como eu estava acostumada a usar para brincar com as crianças da minha família. Isso despertava em mim ainda mais a curiosidade sobre o autismo, porquê diferente de tudo que eu lia e do que normalmente vemos na literatura, é você conviver, estar ali presente e saber que aquele “ser” precisa da sua criatividade, sensibilidade e responsabilidade para se desenvolver.A nossa relação crescia e eu tinha a impressão que da mesma forma que ele me via como um “anjo” na vida dele, também me via como uma “chata” que iria lhe tirar diariamente do seu conforto. Eu precisava mostrar para ele o que cérebro dele sozinho não estava conseguindo, precisava agir nas conexões certas e gerar uma história reforçadora para todos nós, principalmente para ele!Então chegou o dia que ele começou a dar a atenção para aquela “moça” que viajava todos os dias por uma hora e trinta minutos para estar com ele por duas a três horas. E depois de algumas tentativas quando um dia eu o chamei pelo o nome, ele então, olhou nos meus olhos, e foi ai que eu descobri o verdadeiro sentido da palavra “DESENVOLVIMENTO”, da simplicidade de coisas que eu se quer notava a importância no dia a dia, sabia que olhar nos olhos das pessoas é uma alta habilidade social que todos nos devermos ter. Mas não sabia a importância disso, não sabia a profundidade que um olhar tem, e muito menos a transformação que pode gerar no outro. O olhar dele simplesmente abriu meus olhos para olhar para o mundo de uma outra forma, e desde então nunca mais consegui olhar como antes. A questão não foi só de estimula-lo a olhar nos meus olhos, foi de receber amor e acolhimento no olhar de uma forma que só quem convive com os autistas conseguem descrever.Hoje eu reconheço o processo, o caminho, a simplicidade, os pequenos ganhos, a importância de ter alguém que acredite em você e tantos outros. Não que eu não tivesse isso antes, mas agora de uma forma profunda e com mais intensidade. Foi assim que construí minha história de amor no “mundo” que eu tive a certeza que nunca mais sairia dele, porque sair dele é sair de mim mesmo.Com carinho, Juliana