Dia dos namorados chegando e eu não poderia deixar de falar dessa data tão especial: A vida a dois, suas belezas e desafios.Todos sabemos que é maravilhoso ter alguém com quem contar. Ter aquela companhia para as noites de frio, maratonar os seriados juntos, fazer rir e dar risada apenas por estar com alguém especial. Mas nem tudo são flores... Existem as dificuldades do relacionamento, os dias em que não queremos ver ninguém, os momentos em que até o respirar do outro incomoda...Tudo na vida tem seus altos e baixos. Uns dias gloriosos e outros não tão bons assim. A convivência é um exercício diário de paciência. Saber lidar com o outro, suas manias e costumes, ter a consciência de que o outro também tem que aturar muitas coisas sobre nós, tudo isso faz parte do caminho para o mantenimento da relação.Quando encontramos alguém temos a chance de dividir e somar ao mesmo tempo. O amor faz isso. Dividimos lanches, somamos experiências; dividimos a conta, somamos esforços; dividimos tristezas e somamos alegrias! Têm momentos que não são fáceis, mas ninguém disse que seria... afinal, quem aqui é capaz de afirmar que a vida quando estamos sozinhos é sempre fácil?O que é diferente pode assustar, conviver com as diferenças não é simples mas ao mesmo tempo abre um novo mundo à sua frente. Aceitar o diferente é aceitar que podemos crescer. Ver outra realidade, enxergar através de outra perspectiva, pode ser maravilhoso! Conhecer o desconhecido se abrindo para alguém que foge do seu comum é muito recompensador.Então, nesse Dia dos Namorados não tenha medo de se abrir, de compartilhar, de aceitar o diferente, de ver um outro mundo que não o seu, de dividir e somar!Muitos me perguntam como é a vida amorosa no autismo, mas notem que não falei de autismo nenhuma vez porque o amor não escolhe gênero, não escolhe cor, não escolhe credo e também não escolhe entre típicos e atípicos. O amor é aceitar o outro, independentemente de todos esses fatores. Por isso não tinha como escrever apenas sobre amor para autistas pois o amor é universal!Texto escrito por: Fábio Cordeiro, Autista, 41 anos | Funcionário Público Federal | Pai de dois meninos, um neurotípico e um autista | Presidente da REUNIDA - Conselho do Autistas | Criador da maior página de humor autista do Brasil - @aspiesincero
Embora a grande maioria das crianças cheguem aos profissionais de desenvolvimento infantil pelo atraso da fala (80%), essa não é a característica mais marcante do autismo, visto que, um percentual menor de crianças, podem não atrasar a fala. Por outro lado, todas as crianças e adolescentes do espectro autista apresentarão, em graus e apresentações variados, déficit da interação social recíproca, caracterizando o déficit da comunicação social, sintoma observado pelo profissional competente durante a avaliação em consultório. Via de regra não é necessário nenhum exame de sangue, nem tomografias de cérebro, para que o diagnóstico seja feito, ou seja, o diagnóstico é, salvo poucas exceções, clínico e feito em consultório.Quando uma criança atrasa a produção verbal, ou apresenta outros problemas na linguagem, precisamos avaliar a comunicação social dessa criança, a qual é feita observando os meios não verbais, que são:1. Olhar prontamente ao ser chamada pelo nome, mas não basta olhar e desviar rápido, a criança precisa sustentar o olhar demonstrando que tem interesse em trocar informações com o parceiro social;2. Apontar o que deseja, mas esse apontar não pode ser apenas sinalizando o que quer emitindo gritos ou choro, precisa ser declarativo, ou seja, a criança transmiti com o gesto, para o parceiro social, sua intenção. Isso acontece quando a criança aponta olhando para quem executará a ação desejada, dessa maneira se forma um triângulo entre o objeto desejado e o parceiro social que executará o que ela aponta.3. Usar gestos ou mímicas para transmitir um estado mental, por exemplo fazer carinha feliz ao cheirar uma flor, carinha ruim quando não gosta, fazer gesto com a mão no nariz para dizer que alguma coisa está com mal cheiro, responder que “sim” ou “não” dentro do contexto perguntado.4. Imitação dos padrões sociais, como fazer de conta que está se barbeando, dando banho na bonequinha, telefonando para os parentes, passando as roupinhas, ou seja, o brincar de faz de conta e criativo.5. A criança com déficit da comunicação social não tem muita iniciativa de entrar em contato ou chamar a atenção do outro, às vezes nem responde às tentativas do outro em entrar contato com ela, outras vezes responde quando solicitada, mas nunca tem a espontaneidade frequente de aproximar-se e contar o que aconteceu com ela na escola ou perguntar sobre coisas que quer saber.Todas as crianças pequenas, até três anos de idade, precisam apresentar estes comportamentos que transmitem comunicação social, pois nesta idade elas apresentam riqueza e constância de comportamentos para compartilhar seus interesses e demonstrar suas intenções.Se seu filho apresenta alguma dificuldade no comportamento descrito acima, procure um profissional especialista em desenvolvimento infantil, pois o autismo tem tratamento e, quanto mais cedo o diagnóstico e a intervenção precoce forem feitos, melhor e mais pleno do seu potencial a criança chegará.Texto produzido pela Dra Ana Márcia Guimarães| CRM - GO 7003 | Qualificada em desenvolvimento e comportamento infantil | Vice-presidente da Sociedade Goiana de Pediatria.
Primeiramente é importante destacar que sistema ou economia de fichas é um procedimento usado por analistas do comportamento como uma estratégia que visa promover o ensino e a manutenção de comportamentos alvos, no qual as fichas são recebidas comitantemente à emissão de determinadas respostas. Este procedimento é bastante usado para aumentar comportamentos apropriados, diminuir os inapropriados e dar a previsibilidade de acesso ao item ou atividade de preferência do aluno. Para fazer uso de tais fichas com as crianças com autismo é necessário que primeiramente seja feito um emparelhamento da ficha com o item preferido da criança, por exemplo, a criança gosta de estourar bolhas de sabão, o terapeuta fornece a demanda, a criança responde com ou sem dica e imediatamente o terapeuta lhe entrega uma ficha, desta forma a criança não receberá o item preferido de forma imediata, mas “conquistara” a ficha que lhe dará acesso ao item reforçador.Muitas pessoas questionam sobre como diminuir o reforçamento imediato de respostas alcançadas, pois, ao utilizar o sistema de fichas você estaria postergando o reforço de ser imediato, além disso, você estará aumentando o tempo de acesso entre a resposta e o item reforçador. No entanto as fichas podem tornar a aprendizagem muito mais motivadora e diminuir as chances de o aluno ficar satisfeito e saciado por escolher um único tipo de reforço. O aumento das fichas deve ser feito de acordo com a compreensão e os repertórios que criança for adquirindo. Uma sugestão para usar as fichas, é que você utilize de personagens ou desenhos que seja do interesse da sua criança, assim ela estará ganhando fichas que ela gosta para posteriormente fazer a troca por uma atividade/brinquedo ainda mais prazeroso, como dar uma volta, brincar com a bola...Agora que você já aprendeu em como utilizar o sistema de fichas e a importância no ensino de aprendizagem, vou deixar alguns critérios que considero ser de grande relevância ao aplicarem esse procedimento. 1º Dica: Fornecer sempre um elogio associado a “ficha”. Seja bastante entusiasta;2º Dica: Comece sempre entregando uma única ficha. Avance gradualmente para duas ou mais de acordo com as respostas alvo;3º Dica: Use personagens ou itens que chamam a atenção da sua criança; 4º Dica: Ao trocar a ficha por um item reforçador destaque verbalmente a troca que está sendo realizada;Exemplo: Criança faz a tarefa Mãe entrega a ficha e fornece lhe um elogio, parabéns você ganhou uma ficha! Criança ganha a ficha e troca para ter acesso ao item reforçador Mãe recebe a ficha e entrega o item reforçador verbalizando-o5º Dica: Saiba que o sistema de fichas deve ser temporário até que o aluno aprenda se controlar para deixar o sistema de fichas de lado e continuar se comportamento direto reforçado apenas por elogios; 6º Dica: Oportunize através do uso de sistema de fichas a trabalhar os pontos matemáticos tais como: “Quantos adesivos faltam?”, “Quantos adesivos você já conseguiu?” entre outras... Algumas vantagens sobre o uso de fichas: • Quando se estabelecem como reforçadores criam-se um elo entre a emissão da resposta e a apresentação de um reforçador final. • Na medida em que o terapeuta recorre ao uso de fichas para reforçar o comportamento de uma criança, ele garante que a mesma continue engajada na tarefa. • O uso de fichas permite que o terapeuta reforce uma sequência de respostas sem interrupção, já que um número maior de respostas será reforçado com fichas até que a criança tenha um intervalo de tempo para manipular um reforçador de troca. • As fichas facilitam na intervenção de grupos de indivíduos, uma vez que servem como uma consequência padronizada, apresentada para indivíduos sensíveis a diferentes reforçadores de troca. Referências Bibliográficas DUARTE CINTIA, SILVA LUCIANA, VELLOSO RENATA (2018) SP. Estratégias da ABA aplicada para pessoas com Transtorno do Espectro Autista.Texto produzido pela Psicóloga Juliana Moura | Especialista em Autismo | Fundadora do Instituto Parque Azul | Idealizadora do Projeto Parque Azul - Projeto Pioneiro no Mundo | Diretora Geral da Clínica Mundo Kids - Núcleo de Desenvolvimento.
2 de Abril - Uma data superimportante para a comunidade do Autismo. Dia em que o mundo ouve sobre Autismo, dia de conscientizar. Mas muito mais do que isso, dia de refletir sobre o que realmente é conscientizar, sobre o que cada um de nós pode fazer acerca da conscientização não apenas no dia 2 de Abril, mas em todos os dias.Será que realmente podemos fazer algo, será que não podemos fazer nada? Mas como que faz pra conscientizar? Como faz para que todo mundo possa entender um pouco mais sobre o autismo e sobre os autistas? Será que estamos fazendo direito isso, será que a forma que eu busquei para conscientizar é efetiva?Essas são perguntas que devemos nos fazer hoje e buscar uma resposta para por em prática durante todos os outros dias.Mas por que dessa reflexão? Para que possamos achar meios de chegar ao objetivo de todos que estão nessa luta. O respeito e a verdadeira aceitação de todo o espectro do autismo. E o que afinal estou querendo dizer com tudo isso? Para ficar mais claro vou falar do dia a dia, de como vejo o que ocorre na prática do cotidiano."Aí a mãe, o pai fala do seu anjo Azul. Ahh... Já vou arrumar confusão, não aceito esse negócio de anjo, absurdo!" "Olha lá aquele autista dizendo que não gosta de ser chamado de anjo, imagina querer me ensinar como devo falar, Autista é um ser puro, logo essa pessoa aí não pode ser Autista!""Xiiiiiiii... Lá vem aquele médico falar em sair do Espectro. Ridículo, não existe esse negócio, vou lá brigar, embate é o que eu quero, não vou aceitar essa gente que só quer atrapalhar.""Ehhh olha lá, a pessoa que se diz ativista fica querendo mudar tudo que já existe há tantos anos, imagina, eu sou cientista e estou usando termos técnicos, como que alguém vai querer contestar?"Aí o Autista vem e fala: "Não quero e não preciso que ninguém fale por mim... mas pode ter outro autista, logo ali ao lado que quer e que precisa que os pais ou que alguém fale por ele." Aí o repórter vai falar de autismo em prol da causa e logo aparece um monte de gente criticando que ele não chamou nenhum Autista... Cadê a representatividade?Mas será que essas pessoas são inimigas, será que buscam coisas diferentes, quem está certo e quem está errado? E só um grupo tá certo? Todo mundo tem que pensar igual?O autista não é inimigo dos pais de autistas, os pais não são inimigos dos profissionais e os profissionais não são inimigos dos autistas e vice versa. Não podemos, com o intuito de conscientizar, jogar contra a causa.Entendam, não existe A VOZ do Autismo!Existem sim muitas vozes do Autismo.Pais são "voz do Autismo"Profissionais são "voz do Autismo"E autistas são "voz do Autismo"O Autismo tem e precisa de muitas vozes! E tem lugar de fala para todos.Precisamos de união!Precisamos ver quem é contra a causa e quem tem apenas uma opinião ou um conceito diferente do nosso.O que conhecemos do Autismo é ainda só a ponta do iceberg, ou seja, sabemos ainda muito pouco sobre, apesar de todos os estudos e descobertas recentes. Resumindo, temos muitos conceitos e poucas definições ainda sobre o Autismo. E conceitos são variáveis, conceitos são mutantes, conceitos evoluem! Todos podemos evoluir e ficar rígido em nossos conceitos nos torna ultrapassados.É sabido que o Autista tem uma rigidez de pensamento que é inerente ao próprio Espectro, mas não estou falando só para os autistas. Pais, profissionais e todos mais por vezes também insistem de forma até infantil e boba nessa rigidez, e isso não é benéfico para ninguém.Diferenças podem existir e são passíveis de debate. Assim que se cresce e que os conceitos mudam e evoluem.Então é necessário conversar, colocar argumentos e ouvir os argumentos alheios.As coisas não podem ser o que eu quero apenas porque eu quero. É preciso argumentar e ser coerente para poder convencer.Você por acaso já viu alguém convencer a outra pessoa desfazendo da mesma ou a agredindo?Agredindo ou sendo rude você até pode "vencer" um embate, mas no fim será que venceu mesmo quando você apenas infla seu ego por ter diminuído o outro sem que o tenha convencido de fato?Então vamos repensar! Queremos somar ou dividir? Buscamos crescimento ou apenas nos impor para nos sentirmos melhores?Eu sempre digo que conscientização e inclusão começa dentro de casa, então vamos tratar de arrumar nossa casa, e por casa entendam a nossa comunidade, para que cresçamos juntos, para que tenhamos força e para que sejamos respeitados. É demagogia achar que a mudança que queremos no mundo tem que começar pelo outro. Termos podem mudar, ideias podem mudar, o que não pode mudar é a busca do melhor para todos.Texto escrito por: Fábio A. Cordeiro, Autista, 41 anos | Funcionário Público Federal | Pai de dois meninos, um neurotípico e um autista | Colunista no vidadeautista.com.br | Membro da REUNIDA - Conselho do Autistas | Criador da maior página de humor autista do Brasil - @aspiesincero
Todos sabemos das dificuldades, das comorbidades que rodeiam o TEA, das crises sensoriais, das sobrecargas, disfunção executiva, enfim, das limitações que o autismo traz. Eu muitas vezes falo das potencialidades e das vantagens relacionadas com o jeito atípico de ser, mas hoje vou falar dessas limitações!Na troca de experiências que tenho com outros autistas, homens, mulheres, adultos e adolescentes, não é raro que falemos sobre essas dificuldades. O que pode ser surpresa para muitos é que dentre todas essas que citei acima, não está contida a qual é uma das maiores barreiras presentes na vivência de nós autistas, a falta de aceitação do nosso jeito de ser. Isso mesmo, no topo da lista de dificuldades relatadas pela grande maioria das muitas pessoas autistas que tenho contato, está a falta de compreensão alheia! A sociedade continua querendo enquadrar o autista num padrão de normalidade neurotípico. Querem forçar, e acredito que muitas vezes nem é por maldade, a pessoa autista a agir de uma maneira que ela simplesmente não consegue. E a pessoa autista não é capaz de agir como um neurotípico não porque tem algo errado com ela, mas simplesmente porque é diferente, e está tudo bem em ser diferente! As pessoas precisam entender que a neurodiversidade é constitutiva da raça humana, desde que existe o ser humano existem neuroatípicos e só chegamos ao nível de desenvolvimento em que estamos por causa da diversidade em todos os sentidos.Com isso, para quem gosta de problematizar, não estou dizendo que o autista não deve buscar auxílio para amenizar as dificuldades e cessar comportamentos inadequados e/ou prejudiciais para sua integridade ou a dos outros. Apenas venho ressaltar que ser normal não é igual a ser neurotípico. Não é esse o padrão que todos devemos seguir. Temos que aprender a viver todos bem com nossas diferenças e se qualquer pessoa não entende isso então quem tem que se esforçar para ser normal não é o autista.Aceitação começa dentro de casa. Para existir inclusão de fato é necessário informação, entendimento e conscientização.Então se você é autista e está lendo esse texto, espero que você fique tranquilo e saiba que nós somos normais!Agora, se quem está lendo aqui é alguém neurotípico, só peço que entenda que assim como quem está dentro do espectro procura entender e aceitar o jeito neurotípico de ser, procure entender você também a nossa maneira de existir.Texto escrito por: Fábio A. Cordeiro, Autista, 40 anos | Funcionário Público Federal | Pai de dois meninos, um neurotípico e um autista | Colunista no vidadeautista.com.br | Membro da REUNIDA - Conselho do Autistas | Criador da maior página de humor autista do Brasil - @aspiesincero
Dentro das fases do desenvolvimento humano, a adolescência talvez seja uma das mais complexas e delicadas. Quando se trata da pessoa no TEA não é diferente e hoje vou dar o meu relato como alguém que está dentro do Espectro do autismo e como pai de um adolescente Autista.Meu nome é Fábio Cordeiro, Autista de nível 1, tenho 40 anos e por receber o diagnóstico apenas na vida adulta, passei minha adolescência sem saber que era autista. Tal fato é importante pois dá uma perspectiva um tanto quanto diferente em relação ao meu filho que já entrou na adolescência sabendo de sua condição.Para mim realmente essa fase da vida não foi nada fácil. Desde muito cedo, antes mesmo de entrar na pré-escola, eu sabia que era diferente das outras pessoas, apenas não sabia o porquê. Eu sentia que não me encaixava nesse mundo, que tinha que mudar meu jeito de ser para poder me adequar. Algumas vezes eu conseguia disfarçar que estava entendendo tudo, que conseguia acompanhar a dinâmica de socialização dos grupos, pois principalmente na adolescência para ser aceito era muito importante que estivéssemos em grupos. Mas logo eu perdia a velocidade de atualização em que estes grupos caminhavam. A rapidez com que tudo mudava, os gostos, as roupas, as opiniões. E parece que todos combinavam tão bem nessas mudanças enquanto eu gostava sempre das mesmas coisas e meus interesses eram os mesmos por muito tempo. O vocabulário deles era todo igual e eu falava de maneira diferente de todos. Tentar disfarçar tanto para parecer igual cansava muito e no fim eu sempre perdia essa luta. Por mais que tentasse eu não conseguia e isso me fazia explodir. Fazia me afastar de tudo e de todos. E na fase da vida onde a socialização mais aflorava, foi onde eu fiquei mais antissocial. Não por vontade própria, mas sim pelo sentimento de incapacidade de adequação e por repetidas frustrações diante dos fracassos de tentativas em vão.Como se tudo isso não bastasse, na adolescência é que emergem os interesses das relações afetivas. Pelo menos para mim foi assim. E se tem algum tipo de relação interpessoal que envolva mais sinais implícitos em que a comunicação social se apresente de maneira menos verbal e que exija um entendimento de escutar o que a outra pessoa não diz do que as relações afetivas amorosas na adolescência eu desconheço; e era justamente ali o meu maior déficit. Dava vontade de parar de viver!Sim, tive vontade de parar de viver. O sentimento de não se encaixar, de não adequação e de culpa por tudo isso traz sofrimento. E para o adolescente, todo sofrimento é superestimado. No caso do meu filho a perspectiva é um pouco diferente. Ele, como já dito, entrou na adolescência já ciente de seu diagnóstico e com algum entendimento de sua condição.Isso quer dizer que é mais fácil para ele, que então tal fase da vida não demanda tanto cuidado ou tanta atenção? Absolutamente não!Enfatizo que ainda assim essa fase continua sendo muito frágil e crítica. A mudança de perspectiva se dá no sentido que, por já entender mais de sua condição, ele entende melhor os motivos que o fazem diferente dos demais. No meu caso eu me sentia errado, ele já sabe que não há erro algum em ser atípico e que ser diferente é normal. Ele compreende que a dificuldade de socialização acontece não por culpa dele. E aqui que temos o ponto chave da história dele enquanto adolescente autista. Percebam que por mais que ela tenha uma compreensão que eu não tive, a dificuldade de se enturmar não desaparece. E por que então?Porque por mais que lá na minha época eu achasse que o problema estava em mim por não ser aceito, a verdade era que as pessoas em geral não aceitam bem as diferenças e os diferentes. E hoje em dia, infelizmente, pouco mudou nesse sentido. Vivemos numa sociedade que ainda tem que aprender muito sobre diversidade, que tem que aprender sobre acolhimento, uma sociedade em que pais tem que ensinar aos filhos a não rechaçar o estranho, o esquisito. Aliás, esquisito é não abraçar os divergentes.Então, no resplendor dos seus 15 anos, assim como era no meu tempo, meu filho ainda não consegue ter muitos amigos, ainda não consegue estar inserido num grupo, ainda não é convidado para festas de aniversário ou qualquer outra festa. Ele sente-se excluído e muitas vezes ele é mesmo excluído. A diferença está no fato que ele sabe que não há nada errado em ser como ele é. Está no fato de que ele tem um apoio não só dos pais (o qual eu tive também na minha época, mas que como muitos adolescentes eu não era dado a ouvir meus pais) como também de profissionais. E principalmente está no fato de ter um pai que por ver o espectro por dentro, luta todos os dias para que a sociedade evolua e nunca o faça ter a vontade de parar de viver! Texto escrito por: Fábio A. Cordeiro, Autista, 40 anos | Funcionário Público Federal | Pai de dois meninos, um neurotípico e um autista | Colunista no vidadeautista.com.br | Membro da REUNIDA - Conselho do Autistas | Criador da maior página de humor autista do Brasil - @aspiesincero
Desde 2016, quando entrou em vigor o Estatuto da Pessoa com Deficiência, mais especificamente a Lei 13.146/2015, a criança neuroatípica com necessidade comprovada tem o direito a um acompanhante/assistente terapêutico especializado a acompanhando em sala de aula. Meu nome é Ana Júlia Arantes e em 2019 comecei a acompanhar crianças autistas na escola sob supervisão da psicóloga Juliana Moura. Estar no ambiente escolar, para qualquer criança, é muito mais do que apenas se expor a interações sociais. Na escola a criança será exposta a uma série de conhecimentos formais e estímulos sensoriais os quais dificilmente teria contato em outras situações, mas às vezes um apoio é necessário, e ali estará a AT, atuando como uma “sombra” da criança, dando suporte no que for necessário, pois sabemos que numa turma com em média 20 crianças, é complicado que uma única professora consiga dar atenção constante e individualizada a todas elas. No entanto, meu maior desafio nas escolas em que atuei foi em deixar claro que não estava ali para substituir o papel da professora e muito menos para “controlar” a minha criança. Muitas instituições, ainda que tenham um discurso de inclusão, se incomodam com as estereotipias, não sabem lidar com as crises, não gostam de ver uma criança se comportando diferente das demais, porque querendo ou não o modelo de ensino brasileiro ainda se pauta muito em querer um ordem absoluta, uma sala de aula silenciosa, onde os alunos, em fila, compreendam e façam tudo da mesma forma. O discurso de “todos os alunos são iguais na sala de aula” cega para o fato de que todas as crianças são diferentes entre si e, portanto, aprendem de forma diferente. Mas o prazer da profissão está justamente em dialogar com a instituição, com os pais das outras crianças às vezes e, principalmente, com os coleguinhas da sua criança. Quando levamos a informação sobre as especificidades da nossa criança com carinho, podemos ver na prática a inclusão acontecer e o ambiente escolar se modificando. Ser AT escolar é ter a certeza de que nunca verá um dia igual ao outro em sala de aula, é, junto com a sua criança, fazer muitos amiguinhos novos todos os dias, dar muitas gargalhadas, voltar para casa suja de tinta e com um sentimento de gratidão enorme por fazer parte, nem que só um pouquinho, do desenvolvimento não só do pequeno que você atende, mas de muitos outros. Não há gratidão maior, para alguém que estuda e é apaixonado (a) pela infância e o desenvolvimento infantil do que vê-la acontecendo na prática todos os dias, além de sentir que pode fazer uma diferença real sobre a inclusão em cada instituição que passa.Texto Por: Ana Júlia Arantes - Estudante de Psicologia | Assistente terapêutica, supervisionada pela Clínica Mundo Kids.
O Verbal Behavior Milestones Assessment and Placement Program (VB-MAPP) de autoria de Mark L. Sundberg oferece uma avaliação sistematizada para crianças autistas ou com atrasos no desenvolvimento e se tornou um instrumento de uso frequente entre os psicólogos(as) analistas do comportamento que planejam e implementam atendimentos nessa área. Dividido em cinco componentes, o VB-MAPP avalia uma amostra do comportamento verbal da criança a partir de 170 marcos de desenvolvimento que são apresentados em três níveis (0 -18 meses; 18-30 meses e 30-48). A divulgação do trabalho aplicado com pessoas autistas ganhou repercussão a partir de dois eventos, sendo: O estudo de O. Ivar Lovaas (1987) e a publicação do livro Let Me Hear Your Voice: A Family Triumph Over Autism (Quero escutar sua voz: a vitória de uma família sobre o autismo) de Catherine Maurice (1993). O livro relatou detalhadamente o tratamento dos dois filhos autistas. Nos últimos cinquenta anos a ABA teve o desafio de estudar o comportamento das pessoas em situações reais e desenvolver pesquisas com problemas comportamentais, mostrando sua relevância social e justificando a ampliação da área. Outro ponto a ser destacado no modelo VB é a ênfase que coloca no ensino de “mando”, ou seja, “elaboração de pedidos” desde as primeiras fases de uma intervenção ABA. Os mandos são importantes no desenvolvimento da linguagem porque possibilitam que a criança aprenda a pedir e ganhar o que pede/deseja. Entretanto é importante destacar que a VB-MAPP norteia na elaboração de um plano de ensino individualizado que chamamos de PEI. Através dessa avaliação é possível identificar quais são os atrasos em que a criança se encontra de acordo com o que é esperado em cada domínio do desenvolvimento infantil, por exemplo, na habilidade de imitar, brincar, pedir, elaborar e responder perguntas, entre outras. Alguns médicos solicitam que essa avaliação seja feita imediatamente após uma consulta de análise clínica, justamente para identificar quais são os atrasos no desenvolvimento da criança compatível ao que é esperado para cada idade. Justamente por essa avaliação abranger diversas áreas do desenvolvimento ela é fundamental para a avaliação de uma criança, seja ela autista ou com sinais de atraso no desenvolvimento. Pois, por meio dela será possível identificar os atrasos e nortear as melhores intervenções com a criança, e se possível, de forma precoce. Quanto mais cedo, melhores resultados! Ressalvo que o protocolo de avaliação VB-MAPP preconiza ainda que parte de sua programação de ensino ocorra em ambiente natural. O ensino em ambiente natural aproveita do interesse da criança para fortalecer os comportamentos verbais em aquisição. Essas estratégias permitem a continuidade do ensino na presença dos itens de interesse da criança e com outras pessoas do seu convívio. Por exemplo, o interesse da criança em brincar com o brinquedo bola na hora do recreio vira oportunidade de ensino para que ela vocalmente faça um pedido pelo item. Não é demais aprender um pouco sobre a importância dessa avaliação?Ficou com alguma dúvida? Estou à disposição!Texto produzido pela Psicóloga Juliana Moura | Especialista em Autismo | Fundadora do Instituto Parque Azul | Idealizadora do Projeto Parque Azul (Projeto Pioneiro no Mundo) | Diretora da Clínica Mundo Kids - Núcleo de Desenvolvimento Infantil. Referências:Sundberg, M. L. (2016).The Value of a Behavioral Analysis of Language for Autism Treatment. In: Romanczyk, R. G., & McEachin, J. Comprehensive Models of Autism Spectrum Disorder Treatment. ISBN: 978-3-319-40903-0 (Print) 978-3-319-40904-7 (Online).Sundberg, M. L.(2008). The verbal behavior milestones assessment and placement program: The VB-MAPP. Concord, CA: AVB Press. Sundberg, M. L., & Michael, J. (2001).The benefits of Skinner’s analysis of verbal behavior for children with autism. Behavior Modification, 25, 698-724.Martone, A.C (2017), Tradução e adaptação do Verbal Behavior Milestones Assessment And Placement Program (VB-MAPP) Para a Língua Portuguesa e a Efetividade do Treino de Habilidades Comportamentais para qualificar profissionais.
Olá a todos, eu sou o Fábio, autista nível 1 e hoje vou falar como pai de autista para os pais e mães de pessoas autistas.Nesse tempo em que estou envolvido nesse mundo do ativismo em prol da causa do autismo, tenho tido contato com milhares de pais e mães de crianças autistas e um assunto é sempre recorrente. "Como será o futuro dos nossos filhos?"Logo que se recebemos o diagnóstico e mesmo após assimilarmos essa notícia que traz uma reviravolta à vida da família, essa é a maior interrogação que se coloca nas nossas mentes.Quase que diariamente pais vêm até mim com as mesmas preocupações. "O que será do filho quando eu não puder mais estar presente?"... "como meu filho será quando for adulto?"... "será que terá autonomia?"Aí corremos contra o tempo, contra as finanças, contra até mesmo as baixas expectativas que toda uma sociedade movida pela busca de um padrão de normalidade tenta nos impor.É uma luta árdua, dura e cheia de incertezas. Porque o amanhã é incerto e quem tem um filho atípico sabe muito bem disso. Sente na pele isso e vê seu próprio filho sentindo no cotidiano o peso dessas incertezas e imposições sociais, pois afinal vivemos em sociedade e a pessoa autista, por mais que algum mito diga o contrário, também busca inserir-se.E leva para terapia, busca na terapia, procura uma abordagem que traga melhores resultados, leva nas consultas, briga na escola, troca de escola, arranja outro emprego ou larga o emprego para poder dar conta de tanto ir e vir.O orçamento aperta, a culpa por não conseguir estar dando um pouco mais ocasionalmente aparece, e tudo isso em função da busca pelo que meu filho será no futuro, por quem ele será e como ele será. Tudo para que ele possa atingir o seu ideal. E qual pai ou mãe não quer que os filhos atinjam seus ideais não é mesmo?Acontece que nesse caminho todo não podemos esquecer de algo muito importante e esse é o alerta que busco com esse texto. O agora! É o que o título diz e é o que espero que todos que estão lendo reflitam. E o agora?Essa é uma pergunta que devemos fazer a nós mesmos porque é óbvio que devemos nos preocupar com o futuro e buscar o melhor, mas nesse caminho não podemos esquecer do hoje, do presente. Porque é hoje que estamos aqui com nossos filhos, e agora que estamos vivendo esse momento único de podermos ser o pai que é o herói, a mãe que protege de tudo e que é infalível aos olhos do filho. Temos que entender que nossos filhos são perfeitos hoje, que o filho ideal já está diante de nós e que ele é o melhor que pode ser agora. Que ele pode sim evoluir com a sua ajuda mas que o que ele é agora faz parte desse caminho e esses momentos não devem ser descartados ou atropelados em nome de um futuro que como já disse, é incerto.Daqui alguns anos ninguém sabe como será. Pode ser que eu esteja ainda ao lado do meu filho, pode ser que já tenha partido; pode ser que meu filho fale ou pode ser que se comunique de outra maneira; pode ser que ele viva sozinho ou que precise dos cuidados de alguém para auxiliá-lo. Tantas coisas que podem ser e que ainda teremos que nos preocupar por muito tempo. Reforço que não estou dizendo que não temos que nos preocupar. Apenas peço para que não deixem de olhar para o agora, porque o agora passa voando e esses momentos vão fazer a diferença na vida e na lembrança do seu filho e claro, nas suas lembranças também. Penso que para ser um adulto feliz o melhor caminho é ser uma criança feliz. Com a aceitação o caminho para uma vida plena torna-se menos pesado e a aceitação tem que começar dentro do lar. Entender que o filho é perfeito não vai contra buscar um futuro melhor, pois qualquer ser humano tem o direito de ter ajuda para transpor suas dificuldades sem deixar de ser quem é.Então meus amigos, sigam na luta por um futuro melhor mas sem abdicar do agora. Curtam seus filhos hoje, tire a cabeça um pouco da incerteza do "como será" porque ainda terão uma vida para pensar nisso, e aproveite o agora para que quando esse futuro chegar seu passado com seu filho não tenha sido apenas um estalo vazio e sem lembranças.Deixe seu filho ser criança e não apenas um projeto de adulto. Sejam pais e não apenas videntes que só miram no futuro!Abraços.Texto escrito por: Fábio A. Cordeiro, Autista, 40 anos | Funcionário Público Federal | Pai de dois meninos, um neurotípico e um autista | Colunista no vidadeautista.com.br | Membro da REUNIDA - Conselho do Autistas | Criador da maior página de humor autista do Brasil - @aspiesincero